Ele trocou MS pela Europa, mas voltou à tempo da comida da mãe
Há 9 anos morando na Europa, Johnson retornou a Campo Grande e matou a saudade do tempero da comida de casa
Johnson mora na Holanda, fala inglês, já visitou muitas cidades da Europa e já aprendeu a viver com um carboidrato só no prato. Mas bastou um vídeo postado nas redes sociais, ele, sentado à mesa da mãe, em Campo Grande, cercado de arroz, feijão, bife acebolado e risadas, para a gente lembrar: não há Europa que mate a saudade de uma comida feita com afeto. A cena, aparentemente banal, virou nossa pauta da semana. Porque às vezes, é preciso sair do país para entender que amor também se serve em panela de pressão.
Na semana passada, ele pisou de novo em Campo Grande depois de anos longe. O retorno não teve grandes anúncios, mas bastou ele sentar à mesa com a família para que tudo fizesse sentido. Em solo sul-mato-grossense, matou duas vontades que o mundo lá fora nunca conseguiu substituir: o abraço de quem ficou e o arroz com feijão que só mãe sabe fazer.
O vídeo postado nas redes sociais parece simples. Johnson, de camiseta básica, rodeado de parentes, rindo enquanto divide bife acebolado, salada, arroz e feijão. No dia seguinte, frango e peixe assados. E o arroz com feijão de novo, porque saudade, às vezes, repete o prato.
“Quando a gente volta quer comer de tudo, parece que nunca viu comida na vida. Aqui tem aquele gosto que a gente não encontra fora. Mesmo nos restaurantes brasileiros não é a mesma coisa”, comenta.
Há 9 anos vivendo na Holanda, Johnson já aprendeu a se virar com a língua, com o frio, com a distância. Mas o choque mais difícil talvez tenha sido com o prato.
“Os europeus só comem um carboidrato por refeição. Se tiver batata, não tem arroz. Se tiver arroz, não tem massa. Não são como nós, que colocamos arroz, mandioca e macarrão tudo no mesmo prato. Também falta alho, cebola, aqueles detalhes que fazem a diferença”, explica.
Fora do Brasil, Johnson descobriu que o que alimenta nem sempre vem só da comida. Às vezes, vem do cheiro da panela no fogo. Do tempero que a gente sente antes mesmo de abrir a porta. Do gosto que mora na memória.
“Na Holanda eles jantam umas 6 horas da tarde. Geralmente tem uma linguiça própria do País, uma batata, ou uma carne assada no forno com alguns legumes. Na hora do almoço não comem comida quente, é um sanduíche. Eles têm uma culinária totalmente diferente da nossa”, acrescenta.
Entre todas as refeições que aprendeu a aceitar fora do Brasil, uma seguiu fazendo falta com força de memória afetiva. “Senti bastante falta do pastel, mas o churrasco brasileiro nunca vai existir igual, foi o que mais tive vontade. E aqui em Campo Grande, em qualquer celebração, a gente comia churrasco. Era algo que me lembrava da minha família”, afirma.
Johnson deixou o Brasil em fevereiro de 2016. Tinha um sonho, um passaporte e o dinheiro que conseguiu vendendo a moto por R$ 2 mil. Foi o suficiente — ou quase. “Eu não planejei nada. Não pesquisei nada. Só fui. Fui com a cara, a coragem e a fé em Deus”, lembra.
A ideia de sair do país não nasceu de uma grande estratégia, mas de uma conversa de salão. Um barbeiro, entre uma máquina três e uma navalha, contou que já tinha tentado a vida em Portugal. “Quando ele falou que lá se ganha em euro, eu pensei que era isso o que queria”, detalha.
Com a passagem comprada com a ajuda da mãe e o coração dividido entre o medo e a esperança, Johnson se despediu da família e foi para Lisboa. Lá, enfrentou dificuldades, mas também encontrou gente que o ajudou a se firmar. “Eu tinha 140 euros para passar o mês todo. Mas deu certo”, afirma.
Foram sete anos em Portugal trabalhando, enfrentando dificuldades e até ameaças de uma antiga patroa. Depois de muita luta, finalmente o sul-mato-grossense tirou os documentos e se legalizou na Europa. “Fiquei os primeiros três anos sem ver minha família. A saudade era grande, mas eu me segurava com as chamadas de vídeo”, relata.
Hoje, Johnson mora na Holanda, onde trabalha em um salão de beleza. E em quase 10 anos morando fora, ele deixa claro que o afeto brasileiro, especialmente à mesa, é insubstituível.
“Os europeus são mais frios. A gente sente falta do abraço, do calor humano e da comida com afeto. Tem coisas que a gente só encontra no Brasil, não tem jeito”, finaliza.
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