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Comportamento

Louis Stanley partiu, mas viveu “a mil” até o fim pelo rock em MS

Ícone da música sul-mato-grossense morre aos 61 anos

Por Clayton Neves | 05/11/2025 06:45
Louis Stanley partiu, mas viveu “a mil” até o fim pelo rock em MS
Luiz Cláudio Cordeiro, o Louis Stanley morreu aos 61 anos em decorrência de um AVC. (Foto: Arquivo Pessoal)

Por décadas, Luiz Cláudio Cordeiro, o Louis Stanley, foi sinônimo de entrega à música. Vocalista, baixista, guitarrista, luthier e uma figura querida da cena roqueira sul-mato-grossense, o artista partiu nesta segunda-feira (3), aos 61 anos, após dias internado em decorrência de um AVC (Acidente Vascular Cerebral). A notícia abalou amigos, músicos e admiradores, que lembram dele pelo talento e pela intensidade com que viveu. “A mil”, como conta a esposa, Goretti Andrade.

RESUMO

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O músico Luiz Cláudio Cordeiro, conhecido como Louis Stanley, faleceu aos 61 anos nesta segunda-feira (3), após complicações de um AVC. Figura emblemática do rock sul-mato-grossense, ele deixa um legado como vocalista, baixista, guitarrista e luthier. Stanley foi fundador da banda Adrenalina em Araçatuba e integrou grupos como Bêbados Habilidosos, A Pedrada e A Curva. Nos últimos anos, atuava como técnico de som e diretor musical no Boteco do Miau, em Campo Grande, onde era reconhecido por seu perfeccionismo e dedicação à música. Casado há quase 34 anos com Goretti Andrade, deixa dois filhos e netos que herdaram sua paixão pelas artes.

“O Luiz sempre foi um sonhador, tinha a música na alma e era perfeccionista, como era”, recorda Goretti. Segundo ela, no próximo mês o casal completaria 34 anos juntos. Ainda buscando assimilar as coisas, a companheira de uma vida diz que a lembrança que fica é de um homem movido pela paixão, que buscava a perfeição em cada acorde.

“Quando ele ia tocar, ensaiava até a exaustão. Tinha que estar perfeito, senão não dava. Lembro de um show em que ele errou um solo e ficou remoendo por um bom tempo. Eu falei que ninguém tinha percebido e ele respondeu: ‘eu percebi’”, recorda.

A relação dos dois começou em 1991, quando Stanley já tinha uma trajetória na música. Ele havia sido fundador da banda Adrenalina, em Araçatuba, considerada a primeira banda de rock da cidade.

“Quase todo final de ano, os meninos se juntavam para comemorar essa banda”, conta. A música o levava de cidade em cidade, e, em cada uma, ele deixava marcas. “Em Neves Paulista, ele conheceu um português, Toni Cruz, fã de Pink Floyd, e formaram a banda Tee Cee, cover do Pink Floyd. Quando o Toni nos deixou, a banda acabou”, relembra.

Pouco depois, já como Stanley, Luiz formou a banda Liers, na época em que o rock vivia seu auge com Guns N’ Roses e Skid Row. “Ele era o vocalista, mas não gostava de ‘Sweet Child O’ Mine’, lembra a esposa. “Sua inspiração sempre foi o Kiss, fã do Ace, com a voz do Gene e o nome do Paul”, acrescenta.

Louis Stanley partiu, mas viveu “a mil” até o fim pelo rock em MS
Paixão pela música começou cedo e permaneceu por toda a vida. (Foto: Arquivo Pessoal)
Louis Stanley partiu, mas viveu “a mil” até o fim pelo rock em MS
Stanley foi vocalista, baixista, guitarrista e luthier. (Foto: Arquivo Pessoal)

O perfeccionismo e a paixão pela música marcaram toda a vida do artista, que, por boa parte do tempo, falava e pensava em música. “Estamos sofrendo muito, mas, se ele sobrevivesse, seria em estado vegetativo. Isso não era compatível com a vida dele”, explica Goretti.

Segundo ela, pouco antes do AVC, o marido viveu um momento de felicidade. “Recentemente, ele ganhou mais um neto, o Théo, e tocou para o menino fazer o primeiro show da vida dele”, finaliza a esposa.

Um legado familiar de arte - Atriz, a filha Nathalia Andrade descreve o pai como alguém que “respirava música”. “Meu pai foi uma pessoa que realmente viveu pelo que acreditava e gostava. Não houve um momento desses meus 31 anos em que eu não tenha visto meu pai respirar música”, analisa.

As lembranças dela são cenas que se misturam entre o cotidiano e a arte. “Lembro dele sentado no sofá, dedilhando o violão, cantando, estudando. Quando colocava o VHS do Pink Floyd ou a ópera rock Tommy, do The Who, sentávamos todos para assistir. Os ensaios em casa, o quarto com caixas de ovo nas paredes para abafar o som, a vitrola, os discos, tudo fazia parte do ambiente em que cresci”, revela.

Louis Stanley partiu, mas viveu “a mil” até o fim pelo rock em MS
Paixão pelo neto marcou os últimos momentos da vida do artista. (Foto: Arquivo Pessoal)

Ela conta que o pai deixou na família mais do que memórias, mas um amor e respeito pela arte. “Meu irmão herdou dele o talento para o desenho; além de músico, ele era um pintor fantástico. Eu carrego o amor pelas artes cênicas. Ele e minha mãe cultivaram em nós o pensamento crítico e o prazer pelas melodias da vida. Isso permanece vivo em nós e em seus netos”, destaca.

Recentemente, o neto Théo subiu ao palco com o avô pela primeira vez. “Ele deixou esse DNA artístico também no Hávi, que faz desenhos fantásticos, sempre fora da caixa, assim como ele sempre foi, um ser humano fora dos padrões”, pontua a filha.

Um mestre entre amigos - Na cena musical de Campo Grande, Stanley era presença constante, especialmente no Boteco do Miau, onde trabalhava como técnico de som e diretor musical. Era ele quem cuidava do palco, orientava bandas e mantinha vivo o espírito do rock e do blues.

Louis Stanley partiu, mas viveu “a mil” até o fim pelo rock em MS
Stanley ao lado do casal de filhos. (Foto: Arquivo Pessoal)
Louis Stanley partiu, mas viveu “a mil” até o fim pelo rock em MS
Primeiras bandas foram formadas quando Luiz ainda morava no interior de São Paulo. (Foto: Arquivo Pessoal)

“Passar no Boteco do Miau era a garantia de encontrar o Stanley. Ele estava sempre ali, cuidando do som, recebendo os amigos com um abraço e um sorriso”, recorda o músico Will Nogueira, que tocou com ele na banda A Curva. “Ele era um cara de muita luz, educado e conhecia muito sobre rock. Tocava muito bem, fosse guitarra, fosse contrabaixo”, afirma.

Will também conta que Stanley teve papel importante em sua própria trajetória. “Em 2022, afastei-me da música e ele me chamou para tocar no Miau. De repente, eu me vi ali, inserido novamente na música, e começaram a surgir oportunidades. Ele me incentivou e me apoiou. Foi um divisor de águas na minha vida”, ressalta.

Outro amigo, o músico Pedro Espíndola, o descreve como um “mestre do som e dos instrumentos”. “Ele chegou a Campo Grande como luthier, fazendo restauração e manutenção. Era referência nesse meio, sabia muito sobre instrumentos brasileiros antigos. Todo mundo que colecionava vinha pedir opinião para ele”, lembra.

Louis Stanley partiu, mas viveu “a mil” até o fim pelo rock em MS
Pedro Espíndola descreve o amigo como mestre do som. (Foto: Arquivo Pessoal)
Louis Stanley partiu, mas viveu “a mil” até o fim pelo rock em MS
Perfeccionismo e a paixão pela música marcaram toda a vida do artista.

Pedro lembra que Stanley nunca perdeu o espírito de roqueiro clássico. “Era o cara do Pink Floyd, do Led Zeppelin, do hard rock dos anos 70. Tocava contrabaixo, guitarra, violão. E sempre com aquela postura de quem respeita o som e o que ele representa”, conta.

Músico e produtor, Cristiano Lopes, o Dibuena, conta que conheceu Luiz há mais de dez anos em um grupo de rock no Facebook e logo se tornou amigo e parceiro de palco. Foi ele quem produziu uma das lives de Luiz durante a pandemia, dentro do projeto Vertentes. “Ele foi o único que acreditou em mim. Priorizei que ele tocasse mais músicas autorais e ele embarcou de cabeça. Era um gênio”, diz.

Entre as lembranças, Dibuena guarda o carinho e o apoio que recebeu do amigo. “Quando meu pai morreu na pandemia, ele me deu muita força. Ele era amoroso, dava conselhos pra todo mundo. Chamava ele de ‘Gandu do rock’, porque tinha aquele jeitão sábio, meio guru”, conta.

Ele também se lembra do temperamento autêntico do músico. “Luiz viveu o rock de verdade, sem pose. Uma vez me contou que tomou cerveja com o Raul Seixas e até xingou o Renato Russo em um festival. Ele era assim, intenso, verdadeiro”, relata.

Louis Stanley foi integrante de bandas como Bêbados Habilidosos, A Pedrada e A Curva e sua trajetória se encontra com a própria história do rock e do blues em Mato Grosso do Sul.

“Como disse o Lobão em Vida Bandida, é melhor viver 10 anos a mil do que 1000 anos a 10. E ele viveu!”, finaliza a esposa Goretti.

Louis Stanley partiu, mas viveu “a mil” até o fim pelo rock em MS
" Luiz sempre foi um sonhador, tinha a música na alma", descreve a esposa.
Louis Stanley partiu, mas viveu “a mil” até o fim pelo rock em MS
Stanley nos tempos da Banda Adrenalina. (Foto: Arquivo Pessoal)

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