"Morta" desde a revitalização, 14 de Julho pode virar corredor cultural
Não só pelo lucro: quem quer reviver o Centro fala de pertencimento e atenção aos problemas sociais que surgem
A relação do campo-grandense com o Centro de Campo Grande mudou, e o que se vê hoje é uma movimentação baixíssima em comparação à época que foi de ouro para a região. Além disso, placas de "aluga-se" e "vende-se" se multiplicam na fachada de imóveis que antes eram pontos comerciais privilegiados.
Isso acontece em outras cidades do Brasil, não somente na capital sul-mato-grossense. Mas nela, pesa o fato das ruas centrais terem passado por obras de revitalização que despenderam cerca de R$ 100 milhões dos cofres públicos, emprestados de banco internacional.
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Mais uma audiência pública para discutir como "dar vida" ao Centro foi realizada nesta semana na Câmara de Vereadores, levantando a proposta de criar um corredor gastronômico e cultural como remédio para a dor de comerciantes e de todos que querem voltar a ver muito movimento por lá.
Uma das formas de incentivar o interesse de empresários no corredor, que ficaria na principal rua da região, a 14 de Julho, seria dar desconto no IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano). Projeto de lei foi apresentado para permitir as obras necessárias, mas ainda não avançou.
Coragem - O publicitário e agora também empresário Bruno Moraes participou da audiência e apoiou a ideia. Ele abriu com dois sócios o Me dá um Copo, bar na rua que poderá receber o corredor. Já são quase dois meses de atividade.
É a única casa em funcionamento no horário noturno na via. Embora solitária por lá, tem atraído bom público e até quem sonde os proprietários para saber se dá para fazer igual.
"Mais de três pessoas já mostraram interesse até agora, perguntando como estão os preços dos imóveis por aqui e quais deles a gente sabe que daria para virar um bar", conta Bruno.
Entre os que param para conhecer o estabelecimento, o publicitário percebe um misto de surpresa e decepção com o restante da rua quase deserta. "Ao mesmo tempo ficam chocados com o vazio e entusiasmados com a nossa proposta de querer movimentar o Centro à noite", diz.
A iniciativa exige do trio "coragem para fazer algo assim", ele destaca. No caso do corredor gastronômico e cultural ser criado, ter concorrência na noite da 14 de Julho será algo totalmente bem-vindo. "Vai aumentar a circulação de pessoas aqui, de procura por cultura e alimentação e principalmente poderá trazer mais segurança para todos", prevê.
Desejo antigo - Um grupo de empresários, que inclui Bruno e o Juliano Dambros, proprietário do bar Eden Beer, que fica na Avenida Mato Grosso, já debatia como poderia ajudar nisso antes da proposta do legislativo.
Juliano está com o comércio aberto há seis anos. Diz que gostaria de ver ressurgir o movimento da região. "É um desejo antigo nosso acender o saudosismo e o pertencimento ao Centro", comenta. Até então, só o que vê são ótimos imóveis fechados ou abandonados perto do bar dele.
Ele também apoia o corredor. "Desde que não seja só um projeto 'pirotécnico' que muda só o visual e nada acontece. Precisamos de um projeto de ocupação mesmo e incentivos para os donos de imóveis", argumenta.
"O Centro tem vias de acesso importantes. Aqui você, como comerciante, está 'vivo', é lembrado, as pessoas estão circulando por aqui e a região se torna mais segura porque tem mais gente", conclui Juliano
Uma andorinha só não faz verão - Superintendente do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em Mato Grosso do Sul e criador do passeio cultural Campão a Pé, o arquiteto João Henrique dos Santos é entusiasta da revalorização do Centro.
A proposta de ter um corredor gastronômico e cultural para organizar o fluxo e ser pretexto ao desconto no imposto pago aos proprietários, isolada, é "uma andorinha só que não faz verão", na opinião dele.

Sozinha, é inócua e não funciona. Precisamos de ações estruturantes na região central, desde atenção à saúde pública, por termos usuários de drogas pelas ruas, por exemplo, e à assistência social, por termos moradores em situação de rua", ele começa.
João aponta a habitação como principal ponto a se mexer para revivê-la. "Falta moradia e faltam pessoas morando na região central. Ao meu ver, a gente só vai conseguir resolver esse esvaziamento do Centro com a criação de moradias, com gente acordando todos os dias, indo, descendo do seu prédio, saindo da sua casa para ter acesso ao supermercado, à farmácia, a uma conveniência, e todos os serviços que a região central já oferece", diz.
Para ele, depende do poder público agir. "Sem a efetiva presença do Município, esses corredores não funcionam. É só a gente olhar o da Rua Bom Pastor, que foi criado há muito tempo e a gente ainda continua com os mesmos problemas de estacionamento, na calçada, arborização, segurança pública. Então, a criação de um corredor gastronômico e cultural por si só, ele não resolve os problemas e as demandas da cidade, principalmente da região central", provoca.
João finaliza sugerindo o retorno do Carnaval de rua à 14 de Julho, como parte da estratégia. "Se a gente quer a região central viva, a gente tem que voltar a ter, como na década de 1980. Isso vai trazer uma relação muito mais sadia da população com o próprio carnaval, com o próprio Centro", finaliza.
Como seria o corredor? - Ele ficaria localizado somente na Rua 14 de Julho, no encontro entre a Rua Marechal Rondon e a Avenida Mato Grosso. Teria organização do fluxo de veículos e pessoas, sinalização específica, fiscalização e identificação visual.
Pelo menos nove projetos para criação desses espaços surgiram na Câmara Municipal. O último sancionado permitiu o da Avenida Marinha, no Bairro Coophavila II.
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