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Meio Ambiente

Nasa Park culpa Imasul pela demora na reparação de área afetada por barragem

Empresa diz que já protocolou pedido, mas não colocará nenhuma máquina sem autorização na secretaria

Por Natália Olliver | 06/12/2024 13:59
Imagem aérea da represa rompida no Nasa Park (Foto: Direto das Ruas)
Imagem aérea da represa rompida no Nasa Park (Foto: Direto das Ruas)

O loteamento Nasa Park responsabilizou o Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) pela demora na reparação de área afetada pelo rompimento da barragem, em Jaraguari. O dono, Alexandre Alves Abreu, afirmou que já protocolou o pedido no órgão e que aguarda liberação para começar os trabalhos.

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O loteamento Nasa Park, em Jaraguari, responsabiliza o Imasul pela demora na liberação de obras para reparar danos causados pelo rompimento de uma barragem em agosto. Os proprietários alegam possuir licenças desde 1997, terem prestado assistência às famílias afetadas e que o rompimento foi causado por terceiros. Apesar disso, foram multados em R$ 2,65 milhões pelo Governo do Estado, enquanto estimativas de indenizações aos afetados e de reparação ambiental chegam a mais de R$ 10 milhões. Os proprietários contestam algumas reivindicações das famílias e aguardam a liberação do Imasul para iniciar os trabalhos de recuperação.

Ao Campo Grande News, ele explica que não colocará nenhuma máquina no local até que seja autorizado, que faz tudo de maneira legal e que não entende o motivo da demora na liberação.

Ele acredita que o rompimento tenha sido causado por terceiros, já que a barragem não apresentava nenhuma fissura, segundo ele. Alexandre, assim como a advogada, Alice Adolfa Miranda, recusaram ser fotografados ou fazer registros dos documentos apresentados.

“Nós adquirimos a área e a recuperamos. Tem 30 anos, tenho nota fiscal de publicação do edital da licença, feita por jornais desde 1997. Houve um acidente e ninguém sabe os responsáveis. A gente não fez nada errado. Foi um acidente. As vítimas foram atendidas. O rompimento aconteceu por volta das 8h30, às 11h falei que estávamos prontos para iniciar o cadastramento das famílias e um dia depois mandei a perícia na casa de cada uma”, disse.

Ele ressalta que as vítimas estão sendo amparadas desde o rompimento, que aconteceu em 20 de agosto, exceto aquelas que se recusaram. A advogada acrescentou que Alexandre chegou a levar psicólogas até os moradores e eles recusaram.

“O foco da empresa é reparar o ambiente com urgência e faz isso há 30 anos. Por que o Imasul está enrolando para liberar a licença? Já são quatro meses nisso”. Segundo ela, moradores estão pedindo reparos em coisas que não foram afetadas de fato pelo rompimento da barragem. O dono informa que já foram respondidos diversos questionários do órgão de fiscalização ambiental e a autorização ainda não saiu.

De ângulos diferentes, fotos mostram como era e o que sobrou de lago no Nasa Park (Fotos: Silas Ismael e Defesa Civil/Reprodução)
De ângulos diferentes, fotos mostram como era e o que sobrou de lago no Nasa Park (Fotos: Silas Ismael e Defesa Civil/Reprodução)

“Não vamos fazer nada ilegal, como sempre fizemos o certo. Não houve uma vítima fatal, sequer uma lesão corporal ou registro de um animal silvestre morto e estamos atendendo aqueles que querem nos receber. Estão pedindo R$ 1 milhão pela água que passou, mas será que estavam legalizados, no lugar certo?”, pontua Alexandre.

Multas - O loteamento Nasa Park é uma parceria de Alexandre com o empresário Anselmo Paulino dos Santos, juntos eles foram multados em R$ 2,5 milhões pelo Governo do Estado. Já a empresa, enquanto pessoa jurídica, foi autuada em R$ 100 mil, totalizando R$ 2,15 milhões.

Segundo a estimativa do Daex (Departamento Especial de Apoio às Atividades de Execução) do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), a indenização mínima aos afetados seria de R$ 5,3 milhões.

 Já a previsão do Caoma (Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça do Meio Ambiente, da Habitação e Urbanismo e do Patrimônio Histórico e Cultural), também do Ministério Público, é de que os danos ambientais somariam R$ 5,1 milhões em perdas.

Há ainda uma terceira avaliação - que não está incluída nos R$ 10,4 milhões citados - contratada pelos empreendedores responsáveis pelo loteamento e donos da área da barragem que cedeu. Ela estima que os danos materiais sejam em torno de R$ 505 mil.

Morador mostra casa após rompimento de barragem do Nasa Park (Foto: Henrique Kawaminami)
Morador mostra casa após rompimento de barragem do Nasa Park (Foto: Henrique Kawaminami)

Conforme divulgado pelo governo, são três multas impostas aos proprietários, sendo uma sobre causar poluição em níveis que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, mortandade de animais ou destruição significativa da biodiversidade.

Outra por deixar de atender a exigências legais ou regulamentares quando notificado pela autoridade ambiental competente para regularização, correção ou adoção de medidas de controle para cessar a degradação ambiental e a última por utilizar recursos hídricos sem a outorga de direito de uso concedida pelo Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul).

Já a multa dada à empresa, tem como base o Art. 66 do Decreto Federal n.º 6.514/2008, que proíbe a construção, reforma, ampliação, instalação ou operação de estabelecimentos, atividades, obras ou serviços que utilizem recursos ambientais sem a devida licença ou autorização dos órgãos ambientais competentes.

Alexandre pontua que possui todas as licenças exigidas e autorizadas pelo órgão desde 1997 e que não faria nada sem a devida autorização.

Altura do barro em casa de morador atingido pelo rompimento da barragem (Henrique Kawaminami)
Altura do barro em casa de morador atingido pelo rompimento da barragem (Henrique Kawaminami)

Vítimas - A 1ª Promotoria de Justiça de Bandeirantes, que apura os danos ambientais ocasionados em virtude do rompimento da barragem, aponta que 11 pessoas foram afetadas. Já o laudo pericial de Alexandre Alves Abreu e Anselmo Paulino dos Santos, da A & A Empreendimentos Imobiliários Ltda, donos do Nasa Park, foi baseado nas perdas materiais de quatro fazendas: Estaca, Nossa Senhora de Fátima, Vila São Marcos e Vó Cícera.

O empresário explica que leva cesta básicas para as famílias afetadas desde então, assim como água e presta o auxílio necessário. Ele fez um abaixo assinado de moradores para comprovar o compromisso com a questão ambiental ao longo dos anos.

“Tenho uma lista de clientes do Nasa Park de pessoas testemunhas de compromisso que temos com meio ambiente e responsabilidade. Duvido que qualquer empresa como a Vale e Samarco, que não tem nada a ver com o caso porque morreu gente lá, contrataram pessoas tão rápido. Levei perito, engenheiro três dias depois, especialistas em barragem para apurar a causa, perícia técnica e fui atender às pessoas, a gente se resguardou, mas quando tiver certeza do motivo vamos falar. Eu tendo o documento, eu falo”.

Imagem aérea da BR-163 destruída pelo rompimento da barragem no loteamento de luxo, Nasa Park (Foto: Osmar Veiga)
Imagem aérea da BR-163 destruída pelo rompimento da barragem no loteamento de luxo, Nasa Park (Foto: Osmar Veiga)

Rompimento - Na manhã do dia 20 de agosto, o rompimento da barragem do Nasa Park pegou todos de surpresa. A situação destruiu casas, abriu cratera na rodovia, e chegou a interditar totalmente a BR-163. Naquele dia, o congestionamento chegou a quatro quilômetros no sentido Norte e três quilômetros no sentido Sul. Agora, a parte da rodovia já está quase pronta, e com os veículos passando normalmente.

Laudo técnico – Na época, o governo divulgou laudo técnico elaborado pelo Imasul, que aponta que o rompimento da barragem resultou no escoamento abrupto de aproximadamente 693.455 m³ de água. O fluxo de água impactou os municípios de Jaraguari e Campo Grande.

“O laudo teve como objetivo identificar, qualificar e quantificar os danos ambientais, fornecendo uma base técnica para as medidas corretivas e punitivas subsequentes”, disse nota.

Ainda de acordo com o laudo, o colapso da barragem causou sérios danos à biodiversidade local e à qualidade das águas, além de comprometer a infraestrutura da região.

"O laudo técnico também revelou que a Licença de Operação n.º 41/2014, que regulamentava os loteamentos Nasa Park I e II havia expirado, tornando as operações nessas áreas irregulares. Além disso, as barragens no córrego Estaca estavam operando sem a licença ou autorização do órgão ambiental competente, configurando uma situação de irregularidade".

O documento ressalta que os donos do loteamento ainda foram instruídos a regularizar os barramentos existentes, apresentar um laudo técnico sobre as causas do rompimento e implementar um “Programa de Recuperação das Áreas Degradadas”. Além disso, será necessário monitorar continuamente a qualidade das águas e do solo afetados para garantir a recuperação dos ecossistemas.

3ª reunião - As famílias afetadas pelo empreendimento vão se reunir com o Ministério Público pela terceira vez no dia 11 de dezembro.

A reportagem entrou em contato com o Imasul novamente nesta sexta-feira (6) e aguarda resposta do órgão de fiscalização sobre o assunto.

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