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Dia das Mães e a verdadeira pátria educadora

Por Reginaldo de Souza Silva e Leila Pio Mororó (*) | 10/05/2015 09:03

Recentemente fomos surpreendidos com a notícia de que o primeiro colocado nos exames de seleção do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte - IFRN, foi o jovem Thompsom Vitor. Filho de catadores de lixo. Sua primeira equipe de professores foi constituída por sua mãe, Rosângela Marinho, e por seu pai, pessoas advindas da simplicidade e da falta, como grande parte das famílias brasileiras, mas que intuíram que, para a formação de um cidadão, a educação escolar não poderia ser ignorada.

Thompson estudou em instalações precárias e com parcos recursos, originados do lixo, mas cujo valor, a mãe pobre soube reconhecer: _ "Eu trazia os livros que os ricos jogavam no lixo e trazia pra casa. Eu dava pra eles aqueles livros bonitinhos e colocava eles pra estudarem. Aí eu incentivei eles a gostarem de livro", revelou Rosângela ao jornalista que a entrevistou.

Mesmo com todo incentivo, ele ainda precisou lutar muito para garantir o seu direito ao tempo de estudo. Pressionados pela pobreza, por vezes precisou convencer aos pais de que o seu limite em ajudar a família a se sustentar estava em não prejudicar os estudos. E é provável que sua luta não tenha terminado.

O ensino superior no Brasil é caro. Mesmo que ele se dê em instituições públicas e gratuitas, os mais pobres precisam, desde cedo, aprender as estratégias da sobrevivência no meio acadêmico.

Os dados de 2014 sobre o ensino superior no Brasil, por exemplo, indicam a matricula de 7,3 milhões de alunos, destes 5,3 milhões (73,5%) estão em instituições privadas. O restante (1,9 milhão) se divide entre instituições federais (1,1 milhão), estaduais (604 mil) e municipais (190 mil). No entanto, mesmo com a crescente matrícula, há uma diminuição no número de concluintes. O que nos leva a questionar a respeito das condições de estudo e permanência dadas às classes trabalhadoras que chegam a esse nível de ensino.

De qualquer forma, a parte mais difícil para Thompson foi superada. A pobreza, que poderia tê-lo mantido no analfabetismo ou com uma baixa escolarização, não foi um empecilho para que sua mãe, durante a fase mais delicada da vida, a infância, deixasse de garantir a seus filhos algum lugar em sua pátria (terra natal ou adotiva ligada a uma pessoa por vínculos afetivos, jurídicos ou históricos).

Em tempo de tentativas de Golpe de Estado, espancamento, tiros e humilhações aos professore(a)s que estão em luta por melhores condições de trabalho e salário, fica, portanto, a lição de Rosângela Marinho para os governadores de estados, para a presidente Dilma e para todos nós: ser uma pátria educadora é algo que ultrapassa o que se faz na escola.

A educação pode até começar em casa, nos exemplos dos pais, das MÃES, mas precisa transcender para a esfera pública. Implica experimentar, no cotidiano, relações de civilidade, respeito e justiça, atingindo, assim, a dimensão política. E ela só se efetiva quando há engajamento dos cidadãos em um projeto nacional; quando se pode contar com o compromisso e a ética nos governantes no cumprimento desse projeto; quando há transparência no uso dos recursos públicos. Como já dizia o velho ditado indígena, é preciso uma aldeia para se educar uma criança.

Exceção que confirma a regra (de que o acesso a educação superior no Brasil ainda é para a classe média e alta), a história de Thompson e de sua mãe nos faz refletir sobre o papel da família e do Estado na formação da juventude e no verdadeiro significado de uma Pátria Educadora.

Neste dia das mães, a nossa homenagem a Rosângela Marinho e a todas as MÃES deste país que, apesar de todas as dificuldades, ainda buscam garantir a verdadeira Pátria Educadora para os seus filhos. FELIZ DIA DAS MÃES!

(*) Prof. Dr. Reginaldo de Souza Silva e Profa. Dra. Leila Pio Mororó, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB.

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