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"Conexão Terenos-Bonito" mostra esquema de corrupção e elo com empreiteiro

Relatório do MPMS cita participação de empresário em certames investigados em três operações

Por Silvia Frias | 09/10/2025 12:01
"Conexão Terenos-Bonito" mostra esquema de corrupção e elo com empreiteiro
No dia 9 de setembro operação começou pela Prefeitura de Terenos (Foto: Arquivo)

Bonito é destino turístico conhecido no país. Terenos é um município agrícola, com força nos setores de comércio e serviços. Na mais recente investigação do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), as cidades se conectam na mesma engrenagem da corrupção. O trajeto de 229 quilômetros se tornou distância simbólica de um esquema ligado ao empresário Genilton da Silva Moreira, elo entre servidores e contratos públicos fraudulentos.

RESUMO

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O Ministério Público de Mato Grosso do Sul descobriu um esquema de corrupção que conecta as cidades de Bonito e Terenos. A investigação revelou fraudes em licitações envolvendo o empresário Genilton da Silva Moreira, dono da Base Construtora e Logística, e sua esposa Nádia Mendonça Lopes. As operações Velatus, Spotless e Águas Turvas identificaram um esquema que incluía acesso privilegiado a editais, manipulação de processos licitatórios e pagamento de propinas a servidores públicos. Entre os envolvidos estão o secretário de Finanças, Edilberto Cruz Gonçalves, e o fiscal de obras, Carlos Henrique Sanches Corrêa, de Bonito.

A “conexão Terenos-Bonito” é relatada pelo Gecoc (Grupo Especial de Combate à Corrupção). Durante a apuração do esquema de fraudes em licitações em Terenos, foram encontrados indícios de que a corrupção, no mesmo molde, também ocorria em Bonito.

Em Terenos, as investigações desencadearam as operações Velatus, em agosto de 2024, e Spotless, em setembro de 2025, que chegou a ter a prisão do prefeito Henrique Wankura Budke (PSDB).

"Conexão Terenos-Bonito" mostra esquema de corrupção e elo com empreiteiro
Empreiteiro tem contratos com Terenos e Bonito e aparece nas investigações do Gaeco/Gecoc (Foto/Reprodução)

Em Bonito, a investigação culminou na Operação Águas Turvas, deflagrada na última terça-feira (7), com 15 mandados de busca e apreensão e 4 de prisão preventiva.

Participação - Entre as duas cidades, o nome de Genilton da Silva Moreira se repete desde a Operação Velatus. Ele é empreiteiro, dono da Base Construtora e Logística, que presta serviços para as duas cidades. A mulher dele, Nádia Mendonça Lopes, que figura como proprietária da Lopes Construtora e Empreiteira Ltda., também está sendo investigada pela participação nos esquemas fraudulentos.

"Conexão Terenos-Bonito" mostra esquema de corrupção e elo com empreiteiro
Conversa entre secretário e empreiteiro sobre o pagamento de PIX por meio de terceiros (Foto/Reprodução)

Segundo os dados digitais de telefones, computadores e notebooks coletados na investigação em Terenos, é Genilton quem articula as principais fraudes em licitações de Bonito.

De acordo com o relatório, constam como envolvidos Edilberto Cruz Gonçalves, secretário de Finanças; Carlos Henrique Sanches Corrêa, fiscal de obras; Luciane Cíntia Pazette, responsável pelo setor de licitações; além de Genilton e da esposa, Nádia Lopes.

As mensagens mostram que Genilton tinha acesso antecipado a editais e informações de obras antes mesmo de o município abrir os processos oficiais. Em uma delas, trocada com Edilberto Cruz, falam da licitação aberta para a construção da “ponte do Bajuca”, sob responsabilidade da Agesul (Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos). O secretário lamenta que não será feita pela Prefeitura de Bonito: “Ô Genilton, então né, nem pa, nem pa vim pra cá nós licita isso aí por aqui, né?”, diz. Na sequência da conversa, ele fala que vai destinar outras obras para o empreiteiro.

Obra - Segundo o Gecoc, cumprindo a promessa, encaminhou carta-convite para a construção da base de concreto da área do ginásio de esportes e do ELUP (Espaço Livre de Uso Público) Boa Vista, em Bonito, às empresas Lopes & Lopes, pelo valor inicial de R$ 199.692,64, e Construtora Kurose, pelo valor de R$ 36.794,93. Esta última é de Fernando Seiji Alves Kurose, também investigado na Operação Spotless.

"Conexão Terenos-Bonito" mostra esquema de corrupção e elo com empreiteiro
Fiscal mostra a medição e, segundo investigação, cobrou propina. "Fica a dica" (Foto/Reprodução)

Antes da escolha das empresas, o empreiteiro já participava dos trâmites burocráticos.

A licitação foi autorizada em 2 de setembro de 2021. No dia 10 de setembro, o fiscal de obras Carlos Henrique Sanches enviou mensagens a Genilton perguntando se ele gostaria de visitar os locais onde seriam construídas as bases de concreto — obra que ainda nem havia sido licitada. Dois dias depois, em 12 de setembro, o servidor encaminhou as planilhas técnicas e os valores que seriam utilizados no processo licitatório.

Em uma das trocas, Genilton orienta o servidor a incluir itens específicos nas planilhas e chega a enviar modelos de documentos utilizados no Estado. O empresário também determinou que seu funcionário, o pedreiro, visitasse o local para demarcar o terreno “pra adiantar já esse trem aí”, frase registrada em áudio. As conversas mostram que, 14 dias antes da abertura oficial das propostas, em 27 de setembro de 2021, Genilton já participava da definição técnica da obra.

Em 9 de dezembro de 2021, a Prefeitura de Bonito efetuou o pagamento de R$ 102.445,17 à empresa Lopes & Lopes Construtora e Empreiteira pela execução da obra de base de concreto no ginásio de esportes e na área do ELUP (Espaço Livre de Uso Público) Boa Vista.

No dia seguinte, 10 de dezembro, o secretário de Finanças Edilberto Cruz Gonçalves enviou mensagem ao empresário informando: “Tô fazendo seu pagamento”. O detalhe é que, segundo o relatório, o crédito já constava no Portal da Transparência desde o dia anterior, o que indica que o repasse à empresa havia sido concluído antes da mensagem.

Em resposta, Genilton agradeceu e comunicou que iria a Bonito na segunda-feira, 13 de dezembro de 2021. Para os investigadores, essa visita “estava relacionada às negociações para o pagamento de propina ao agente público”.

As mensagens seguintes confirmam os repasses. Em 14 de dezembro de 2021, Edilberto enviou a Genilton uma chave PIX em nome de um empreiteiro do Paraná e o empresário transferiu R$ 20 mil no dia seguinte. Em 21 de dezembro, Edilberto pediu mais tempo para encontrar “alguém pra passar outro PIX”. No dia seguinte, encaminhou os dados bancários de outra pessoa para o repasse de R$ 15 mil. Essa pessoa é ligada a investigados nas operações Parasita e Turn Off, que também tratam de fraudes em certames em Campo Grande.

"Conexão Terenos-Bonito" mostra esquema de corrupção e elo com empreiteiro
"O Natal vem pra todos": segundo Gecoc, conversa trata do pagamento de propina (Foto/Reprodução)

A investigação aponta que o fiscal de obras, Carlos Henrique Sanches Corrêa, também entrou na lista de beneficiados. Em 1º de dezembro de 2021, ele enviou a Genilton um e-mail contendo a medição da obra de construção da base de concreto, no valor de R$ 102.445,17. Logo depois, segundo o relatório do Gecoc, fez cobrança velada de propina, escrevendo: “fica a dica”.

Genilton respondeu com ironia: “O Natal vem para todos”, frase que, segundo o MPMS, fazia alusão ao pagamento indevido que seria feito ao servidor. Logo após essa troca de mensagens, o empresário foi ao banco e sacou R$ 5 mil em espécie, valor que, de acordo com o MPMS, corresponde à propina destinada a Carlos Henrique.

Dias depois, em 14 de dezembro de 2021, Genilton confirmou sua ida a Bonito. Após a visita, o fiscal perguntou: “Você deixou lá no hotel?” A expressão, segundo os investigadores, indica o repasse da propina.

Outro lado – O advogado Pedro Paulo Sperb Wandelay, que representa Genilton da Silva e Nádia Lopes, disse que somente tomou conhecimento de todo o teor da investigação ontem e das possíveis infrações. “Tudo será demonstrado pela defesa no momento oportuno”, afirmou.

O advogado acrescentou que ainda fará os pedidos cabíveis para liberação de Genilton da Silva, que teve mandado de prisão preventiva cumprido na Operação Águas Turvas. Sobre Nádia, informou que ela está em liberdade e que foi cumprido mandado de busca e apreensão na casa e no escritório da empresa.

A reportagem não conseguiu contato com a defesa dos outros citados na investigação.

O nome da operação, “Águas Turvas”, faz referência à perda de transparência — um contraponto à fama de Bonito, conhecido nacionalmente por suas águas cristalinas e belezas naturais. A operação contou com apoio do Gaeco (Grupo Especial de Repressão ao Crime Organizado).

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