Levantamento analisa impacto do tarifaço sobre exportações de MS
Governo estadual trabalha com cenário de retração nas vendas aos EUA se a taxa de 50% não cair
A nove dias da entrada em vigor da sobretaxa de 50% dos Estados Unidos (EUA) sobre as exportações brasileiras, a equipe técnica da Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação) fez um levantamento detalhado de prováveis impactos da medida sobre os produtos que compõem a pauta exportadora de Mato Grosso do Sul.
RESUMO
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A imposição de uma sobretaxa de 50% sobre as exportações brasileiras pelos Estados Unidos, a partir de setembro, pode impactar significativamente a economia de Mato Grosso do Sul. Um estudo da Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação) revela que setores como carne, ferro e celulose, que representam grande parte das exportações estaduais para os EUA, serão afetados pela medida. A elevação dos preços pode comprometer a competitividade dos produtos sul-mato-grossenses no mercado americano. Em 2024, as exportações de Mato Grosso do Sul para os EUA atingiram US$ 669,5 milhões, com destaque para carne bovina (US$ 225,6 milhões) e celulose (US$ 213,4 milhões). A dependência do mercado americano é particularmente alta para o setor de ferro-gusa, que destina cerca de 90% de sua produção ao país. A Semadesc alerta para a possibilidade de retração nas exportações e defende a renegociação dos acordos comerciais. Buscando evitar o tarifaço, o governo brasileiro, juntamente com representantes do Congresso e do setor produtivo, intensifica as negociações com os Estados Unidos.
Uma das conclusões aponta que carga tributária de 50% pode reduzir a competitividade dos produtos do Estado, já que a alta no preço para os compradores norte-americanos pode interferir diretamente no valor final ao consumidor. A decisão foi comunicada oficialmente pelo presidente Donald Trump, em 9 de julho, em carta enviada ao presidente Lula.
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Os setores de carne e ferro estão entre os mais sensíveis à medida, além da celulose, que desde o início deste ano lidera a pauta exportadora de Mato Grosso do Sul, ultrapassando a soja.
No ano passado, a carne bovina e seus derivados lideraram as exportações estaduais para os EUA, com um total de US$ 225,6 milhões, o equivalente a 33,7% do total exportado. Em segundo lugar, a celulose gerou receita de US$ 213,4 milhões, representando 31% do total exportado. Foram 341,6 mil toneladas de celulose vendidas ao mercado norte-americano.
A assessora de Economia e Estatística da Semadesc, Bruna Mendes Dias, analisa os dados com atenção, considerando que os principais setores exportadores de Mato Grosso do Sul possuem cadeias produtivas consolidadas, com diversificação de mercados, estrutura logística instalada e maior capacidade de adaptação a cenários externos.
Ela lembra que setores como o de celulose, por exemplo, têm planejamento de longo prazo, uma vez que o ciclo do eucalipto dura cerca de sete anos, e operam no planejamento para reduzir impactos imediatos. Bruna avalia que se sem negociações haverá prejuízos:
“A sobretaxa de 50% imposta pelos Estados Unidos tende a reduzir a competitividade dos produtos exportados por Mato Grosso do Sul ao mercado norte-americano. Embora ainda seja prematuro quantificar os impactos, é possível que ocorra uma retração nas exportações, especialmente se não houver reconfiguração dos acordos comerciais”, afirma a economista.
Histórico do comércio entre MS e EUA
Nos últimos cinco anos, as exportações de Mato Grosso do Sul para os Estados Unidos cresceram 175%, saltando de US$ 243 milhões, em 2020, para US$ 669,5 milhões em 2024 — totalizando 785 mil toneladas. Esse resultado consolidou os EUA como um dos principais destinos dos produtos sul-mato-grossenses, ao lado dos mercados asiático e europeu.
O crescimento acentuado das exportações vem garantindo superávit na balança comercial com os EUA desde 2020. Enquanto as exportações mais que dobraram no período, as importações permaneceram em patamares mais baixos, variando de US$ 90 milhões, em 2020, a US$ 148,8 milhões em 2024, o equivalente a 236,863 mil toneladas. O superávit cresceu 241% nesse período e alcançou US$ 520,6 milhões em 2024, conforme dados da pasta.
Entre os produtos importados, lideram a pauta as compras de adubos ou fertilizantes químicos (exceto fertilizantes brutos), no valor de US$ 53,740 milhões (equivalentes a 104,637 mil toneladas), no ano passado. Em segundo lugar, estão as importações de aeronaves e outros equipamentos, incluindo suas partes, que somaram US$ 45,425 milhões.
Dependência americana das exportações de ferro
A economista também destaca a forte dependência do setor de ferro-gusa (que inclui spiegel, ferro-esponja, grânulos e pó de ferro ou aço e ferro-ligas) do mercado norte-americano. Os EUA consomem cerca de 90% da produção desse segmento produzido em Mato Grosso do Sul.
Para Bruna Mendes Dias, é necessário buscar soluções equilibradas para todos os segmentos, sempre com foco na preservação do fluxo comercial e no interesse mútuo das partes envolvidas.
“O que se espera, na atual conjuntura, é que haja espaço para negociação. Hoje, a balança comercial entre Mato Grosso do Sul e EUA é superavitária para o estado. Ou seja, exportamos muito mais do que importamos daquele país. O mais provável é que se busque um caminho de negociação e cooperação técnica, evitando medidas mais duras como a da Lei de reciprocidade.”
Além do empenho dos setores produtores, que buscam apoio dos importadores, o governo e Congresso também tentam abrir negociações com os Estados Unidos. O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin pediu a intermediação dos produtivos dos dois países, enquanto uma comissão do Senado organizou um encontro com congressistas dos Estados Unidos, entre os dias 29 1 31, em Washington para tentar evitar o tarifaço.