Contabilidade é aposta da vez para salário alto e procura cresce nas faculdades

Enquanto o mercado de trabalho exige cada vez mais profissionais capazes de lidar com tecnologia, dados, automação e mudanças tributárias, o interesse pela graduação em contabilidade também cresce no mesmo ritmo.

De acordo com o ranking do ensino superior do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), o curso de Ciências Contábeis figura entre os cinco maiores do país em número de ingressantes, ficando em 4º lugar. Em 1º está Pedagogia, com 1.832.378; depois Direito, 1.611.066; Administração, 1.582.955; Ciências Contábeis, 713.347; e Enfermagem, 636.629.

Em Mato Grosso do Sul, embora o curso ocupe a 5ª posição, atrás de Direito, Administração, Pedagogia e Enfermagem, há sinais claros de avanço na procura. No Estado, são 6.332 inscritos no curso, conforme o ranking do ano passado.

Um exemplo é a UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), que registrou aumento de 53% nas matrículas em Ciências Contábeis entre 2023 e 2025.

Na Insted, o aumento de matrículas foi de 442% em 4 anos. Em 2022, o curso de Ciências Contábeis contava com 70 alunos. Já em 2023, saltou para 170 matriculados; em 2024, foram 270 alunos; e, em 2025, o total chegou a 380 estudantes.

Para 2026, a projeção é de 480 alunos, o que representaria aumento de 26% sobre o ano anterior, segundo o coordenador dos cursos de Administração, Ciências Contábeis, Gestão de Recursos Humanos e Gestão Comercial da faculdade, William Maachar. Considerando o período de 2022 a 2026, o aumento é de 585%.

"Além do número de matrículas, a receita gerada pela profissão também acompanha essa evolução, reforçando a atratividade da área. O movimento confirma que a contabilidade, apontada em reportagens nacionais como uma das carreiras com melhores salários, está em alta também na procura acadêmica", destacou.

A valorização da carreira aparece também no mercado de trabalho. Conforme o ranking da consultoria global Robert Half, divulgado pelo Estadão, as áreas de finanças e contabilidade lideram os maiores salários do Brasil.

Um diretor financeiro recebe, em média, R$ 86,95 mil, seguido do diretor executivo do mercado financeiro (R$ 86,6 mil) e do gerente-geral de vendas e marketing (R$ 80,95 mil). Outros cargos de alta remuneração incluem o diretor de cadeia de suprimentos de engenharia (R$ 54,95 mil) e o diretor jurídico no setor bancário (R$ 44,15 mil).

Em outras posições está o controller, profissional-chave da área contábil, com salário médio de R$ 39,85 mil, acima de carreiras em ascensão, como engenheiro de inteligência artificial (R$ 27,1 mil) ou especialista em ESG (ambiental, social e governança) (R$ 16,7 mil).

Indispensável - Para a conselheira de desenvolvimento profissional do CRC-MS (Conselho Regional de Contabilidade de Mato Grosso do Sul), Eloir Vasques, a demanda por alguns requisitos torna o profissional indispensável.

“Concordamos que está acontecendo um crescimento. Apesar da falta de dados públicos recentes e específicos para MS sobre o aumento de novos alunos em contabilidade, a combinação de forte demanda nacional por contadores qualificados e expansão da oferta de educação à distância no Estado sugere fortemente que a tendência nacional está se refletindo também em MS, especialmente em Campo Grande”, pontuou.

Na era da IA (Inteligência Artificial), ela reforça que a digitalização não substitui o contador, mas amplia o campo de atuação.

“Acredito que a IA e os softwares contábeis não estão substituindo o contador, mas automatizando tarefas mecânicas para que profissionais possam atuar em nível mais estratégico. Inclusive, nas universidades já utilizamos programas contábeis que dão suporte a essa tendência”, completou.

Segundo Eloir, a Reforma Tributária deve elevar ainda mais a procura por especialistas capazes de lidar com novos regimes fiscais. “A Reforma Tributária iminente demanda profissionais capacitados para lidar com mudanças de regime, complexidade tributária e compliance, o que eleva o valor do profissional contábil. Muitos escritórios e empresas já utilizam automação, mas precisam de profissionais que entendam não só a contabilidade tradicional, mas também análise de dados, riscos, projeções, indicadores, ESG, entre outras habilidades, inclusive as comportamentais.”

O mercado, afirma a conselheira, busca um contador multifacetado. Não basta dominar lançamentos e rotinas tradicionais: agora, é preciso compreender análise de dados.

“Os estudantes valorizam isso; não querem apenas fazer lançamentos, mas aprender a interpretar relatórios, gerar valor e, inclusive, a consultoria surge como tendência”, disse.

Ainda de acordo com Eloir, o Conselho Regional de Contabilidade tem realizado visitas às escolas para apresentar aos estudantes a evolução da área.

Lucas Gomes Rodrigues, de 35 anos, escolheu o curso de Ciências Contábeis por sua ampla abrangência de conhecimentos. Ele estuda pelo EAD (ensino à distância).

Lucas já atuou no setor financeiro de uma empresa, onde muitas situações vivenciadas na prática estavam diretamente relacionadas à área contábil. Atualmente, também trabalha com recursos humanos e folha de pagamento.

Embora hoje esteja certo de sua escolha, contabilidade não foi sua primeira opção acadêmica. Antes de cursar Administração, já tinha interesse em Ciências Contábeis, mas acabou optando por outro caminho naquele momento.

“Estou gostando muito do curso, que tem complementado de forma significativa minha formação em Administração. Agora, com a oportunidade de retomar os estudos, pude finalmente escolher contabilidade”, explicou, acrescentando que irá terminar a faculdade no primeiro semestre de 2026.

Assim como Eloir, ele também fala sobre a possibilidade de compreender a Reforma Tributária.

“O profissional de contabilidade possui um leque de oportunidades extremamente amplo. Pode atuar em diversas áreas, tanto em empresas privadas quanto públicas, além de consultorias. As possibilidades incluem contabilidade, fiscal, controladoria e área trabalhista. Com a implementação da Reforma Tributária, esse campo tende a se expandir ainda mais, fortalecendo o papel do contador no mercado”, destacou.

Quanto à renda, Lucas acompanha a valorização crescente da profissão. “Acompanho o processo de valorização da profissão e acredito que essa tendência continuará crescendo. Por isso, recomendo o curso para quem ainda tem dúvidas sobre qual carreira seguir”, concluiu.

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