Manifestantes cobram melhorias na saúde após casos de violência obstétrica
Mães relataram como perderam seus filhos durante sessão ordinária da Câmara Municipal de Campo Grande

Durante a sessão ordinária da Câmara Municipal de Campo Grande, realizada nesta terça-feira (11), manifestantes usaram a tribuna livre para cobrar melhorias na saúde pública e denunciar casos de negligência e violência obstétrica nos hospitais da Capital. Um grupo de mães que perderam os filhos compartilhou suas histórias com os vereadores e solicitou medidas urgentes.
RESUMO
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Manifestantes utilizaram a tribuna livre da Câmara Municipal de Campo Grande para denunciar casos de negligência e violência obstétrica nos hospitais da capital. Entre os relatos, destaca-se o da cuidadora Fiamma Munhoz, que perdeu seu filho prematuro devido à falta de estrutura hospitalar e demora na transferência entre unidades. A fotógrafa Ariane Lima também compartilhou sua experiência, relatando a perda de seu filho Dante após problemas no atendimento na Maternidade Cândido Mariano. A Santa Casa de Campo Grande manifestou solidariedade às mães e afirmou não compactuar com práticas de violência obstétrica, ressaltando limitações estruturais e sobrecarga no sistema.
A cuidadora de idosos Fiamma Munhoz, de 26 anos, relatou na tribuna o filho Kalleb de nasceu de forma prematura na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Santa Mônica. Ela contou que o bebê precisava ganhar 200 gramas para poder ir para casa, mas, ao serem encaminhados para a Santa Casa de Campo Grande, não havia vaga na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) neonatal. A única vaga disponível era em outra cidade, para onde Kalleb foi transferido.
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Fiamma detalhou que, desde então, enfrentou uma série de diagnósticos e atrasos para solicitar a transferência para um hospital com estrutura adequada. Aos 32 dias de vida, o bebê foi transferido para o Hospital Regional, mas já estava com infecção generalizada e um abscesso de pus na barriga. Durante a cirurgia, os médicos constataram que 15 centímetros do intestino estavam necrosados e que a infecção já havia se espalhado pelo sangue. No dia seguinte à cirurgia, Kalleb sofreu duas paradas cardiorrespiratórias e não resistiu.
“O problema foi a demora na regulação, no pedido de transferência e a falta de estrutura no hospital. A cada seis horas, o plantão médico era trocado e cada profissional dava uma versão diferente sobre o que estava acontecendo. Nos prontuários que tenho, eles mesmos registraram que não havia aparelho para realizar exames; o ultrassom, por exemplo, não foi feito porque o equipamento não existia na unidade”, desabafou Fiamma.
Outra mãe que compartilhou sua experiência foi a fotógrafa Ariane Lima, de 35 anos, que perdeu seu filho, Dante, um dia após o nascimento. Ariane relatou que procurou a Maternidade Cândido Mariano no dia 10 de outubro de 2021, já com 40 semanas de gestação. No hospital, disseram-lhe que ainda estava no início do trabalho de parto, recusando sua internação. Ariane retornou para casa, mas voltou ao hospital na manhã seguinte.
A fotógrafa destacou que os médicos não foram solícitos no atendimento e demoraram a agir. Como resultado, seu filho entrou em sofrimento fetal e ela foi internada na manhã do dia 11, mas Dante nasceu apenas às 19h10. “Eu já estava em trabalho de parto desde o dia 10. Meu bebê teve uma infecção muito grave. Os médicos disseram que foi uma infecção severa, e ele acabou não resistindo”, relatou Ariane.
Durante os depoimentos, a vereadora Luiza Ribeiro (PT), única parlamentar mulher a comentar o assunto durante a sessão, mencionou que também passou por um caso de violência obstétrica em sua família, com o sobrinho João Ravi. “Eu tive um Ravi também, que perdemos há dois anos”, disse a vereadora.
Ela relacionou a falta de respostas para as mulheres e os casos de violência obstétrica ao machismo estrutural. “Se os homens parassem, não teríamos o problema que temos hoje”, afirmou. “Nós sofremos violência o tempo todo, inclusive na hora do nascimento dos nossos filhos.”
Em alguns momentos dos desabafos, os ânimos dos manifestantes ficaram exaltados, e o presidente da Casa, vereador Epaminondas Neto, o Papy (PSDB), pediu que as pessoas se acalmassem para dar andamento às falas.

Outro relato sobre a saúde na Capital veio da professora Sirley de Matos, de 54 anos, que contou sobre o seu tratamento no CEM (Centro de Especialidade Médica) em 2024, que ainda não foi concluído. Sirley informou que lhe foi diagnosticado líquen plano na mucosa, mas que a condição sarou espontaneamente, sem a necessidade de medicação. Além disso, ela fez duas biópsias, mas o resultado indicou líquidos inespecíficos, que poderiam representar dermatite, sendo necessária uma correlação clínica para definição do diagnóstico.
Sem o resultado conclusivo, a professora retornou ao médico, que alegou faltar material para identificar o tipo de dermatite. “Eu não sei o que tenho. Sou um ser humano com alergia e até hoje não fui curada”, destacou Sirley.
A Santa Casa de Campo Grande, por meio de nota, lamentou profundamente as perdas relatadas e se solidarizou com as mães que participaram da manifestação. A instituição ressaltou que não compactua com práticas de violência obstétrica e que isso não corresponde ao atendimento que o hospital busca oferecer. “Nossa equipe assistencial atua com dedicação para oferecer o melhor cuidado possível, mesmo diante das limitações estruturais e da sobrecarga gerada pela falta de ajustes na rede pública de saúde para acompanhar o aumento da demanda”, informou.
O hospital pediu que, caso haja algum episódio relacionado especificamente à instituição, seja apresentado formalmente à Santa Casa, para que os fatos possam ser apurados com responsabilidade e transparência.
A Maternidade Cândido Mariano e a Prefeitura de Campo Grande foram procuradas pela reportagem, mas até a publicação desta matéria não enviaram respostas. O espaço segue aberto para posicionamento.
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