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Criatividade com propósito: um chamado ético para tempos de crises

Por Jane Farias Chagas-Ferreira e Marina Silva Bicalho Rodrigues (*) | 17/11/2025 13:30

No dia 17 de novembro, celebramos o Dia da Criatividade — uma data que costuma ser associada à imaginação, à inovação e à liberdade de expressão. Mas será que toda criação é positiva?

Vivemos hoje em um cenário marcado por uma policrise global, impulsionada pela intensificação da globalização e pelo avanço vertiginoso das tecnologias. Esse contexto, embora repleto de desafios inéditos, também abre espaço para novas possibilidades criativas de reinvenção social, cultural e ambiental. Diante de tamanha complexidade, torna-se urgente desenvolver não apenas resiliência, mas sobretudo a capacidade criativa de imaginar e construir alternativas que rompam com padrões insustentáveis.

Essa criatividade transformadora exige mais do que soluções pontuais. Ela demanda uma mudança profunda nos valores, comportamentos e estruturas sociais, desafiando a lógica de reprodução de um sistema capitalista que historicamente dissociou o ser humano da natureza. Criar, portanto, é também um ato político: é imaginar futuros possíveis, propor novas formas de viver e conviver, e reconstruir nossas relações com o planeta de maneira mais justa, solidária e sustentável.

Em tempos de crises ambientais, desigualdades sociais e transformações aceleradas, não basta criar. É preciso criar com consciência. A criatividade precisa de propósito. A formação de sujeitos criativos, críticos e sensíveis às questões do nosso tempo é uma das chaves para enfrentar os impactos da policrise, que já compromete a qualidade de vida em escala global. A criatividade não se limita à inovação tecnológica ou à expressão artística: ela se manifesta como ferramenta de análise, de resistência e de transformação.

Nem toda criação é boa

A criatividade é uma das maiores potências humanas. Ela nos permitiu sobreviver, evoluir e transformar o mundo. Mas também nos levou a construir tecnologias destrutivas, sistemas econômicos excludentes e modelos de consumo insustentáveis. A bomba atômica, por exemplo, é fruto de um pensamento altamente criativo — e, ao mesmo tempo, um símbolo de destruição. Isso vale para plásticos de uso único, algoritmos que reforçam preconceitos ou estratégias de marketing que estimulam o consumo desenfreado. Criar, portanto, não é sinônimo de melhorar. Criar sem ética é arriscar o futuro.

Criatividade como ferramenta de transformação

A boa notícia é que a criatividade também pode ser usada para reparar, reinventar e regenerar. Ela nos permite pensar fora da caixa, conectar ideias diferentes e imaginar soluções para problemas complexos. No campo ambiental, o pensamento criativo é essencial para desenvolver alternativas sustentáveis, reduzir impactos e promover estilos de vida mais equilibrados (RODRIGUES; CHAGAS-FERREIRA, 2023; 2024a, 2024b).

Criatividade não é luxo — é necessidade

Em um mundo em constante transformação, a criatividade deixou de ser uma habilidade desejável para se tornar uma competência essencial. O mercado de trabalho valoriza profissionais capazes de propor soluções inovadoras. A sociedade precisa de pessoas que saibam lidar com o novo, com o inesperado, com o desconhecido e com os riscos! A criatividade precisa ser orientada por valores. Criar com propósito é imaginar soluções que promovam a vida, a dignidade e o equilíbrio com a natureza. É pensar no coletivo, no futuro e nas consequências de cada ideia.

Criar é um ato de poder — e com ele vem a responsabilidade. Que nossas ideias sejam sementes de transformação, e que floresçam em direção a um futuro mais justo, sustentável e humano.

(*) Jane Farias Chagas-Ferreira, professora no Departamento de Psicologia Escolar e do Desenvolvimento na Universidade de Brasília e Marina Silva Bicalho Rodrigues, doutora em Psicologia do Desenvolvimento e Escolar pela Universidade de Brasília

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.