Após queda, estupro virtual de crianças e adolescentes volta a crescer em MS
Especialista em direito digital alerta para urgência de ações integradas contra os crimes online
Dados da Sejusp (Secretaria de Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso do Sul) revelam um aumento alarmante nos casos de crimes sexuais virtuais contra crianças e adolescentes de 8 a 17 anos nos últimos 3 anos.
RESUMO
Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!
Casos de exploração sexual infantil online crescem em MS, acompanhando tendência nacional. Dados da Secretaria de Justiça e Segurança Pública revelam aumento nos registros de estupro virtual, favorecimento da prostituição e estupro de vulnerável entre 2023 e 2025, especialmente após denúncias do influenciador Felca sobre a "adultização" de menores na internet. O aumento coincide com a alta nacional de denúncias recebidas pela SaferNet Brasil. Especialistas defendem ações integradas entre governo, sociedade civil e plataformas digitais para combater o problema. O Brasil ocupa a 5ª posição global em denúncias de abuso sexual infantil online. A advogada Silvia Ibanez Martins destaca a urgência de discutir o tema com pais e responsáveis, além da importância da educação digital e da colaboração das plataformas na moderação de conteúdo e criação de ambientes online mais seguros para crianças e adolescentes. A denúncia de Felca reforçou a necessidade de proteger os direitos das crianças e adolescentes no ambiente digital.
Em 2023, foram registrados 12 casos de "estupro virtual", o que muitas pais nem sabem que exite. Esse crime ocorre quando a vítima é coagida a realizar atos sexuais no ambiente digital. Entre as práticas mais comuns estão: obrigar crianças e adolescentes a se despirem ou se masturbarem em chamadas de vídeo; exigir o envio de imagens íntimas sob ameaça de exposição, em casos de extorsão; e forçar a participação em conversas de teor sexual explícito.
O número desse tipo de abuso caiu para 8 em 2024. No entanto, entre janeiro e agosto de 2025, o total subiu para 5 casos, superando os 3 registrados no mesmo período de 2024. Especialistas alertam que, apesar de acontecerem no espaço online, esses crimes têm o mesmo peso jurídico e psicológico das agressões presenciais.
O crescimento coincide com o impacto das denúncias do influenciador digital Felca, que expôs a exploração de crianças na internet. Porém, a Sejusp não consegue dizer se o que ocorreu foi o aumento de denúncias por conta da repercussão nacional que levou o influenciador Hytalo Santos à prisão.
O que a Secretaria tem são números. Os crimes de favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual, saltaram de 3 em 2024 para 6 nos primeiros oito meses de 2025. Já os casos de estupro de vulnerável caíram de 13 em 2023 para 3 em 2024, mas também apresentaram crescimento nos registros parciais: de 2 ocorrências de janeiro a agosto de 2024 para 6 no mesmo período de 2025.
A repercussão das denúncias do influenciador Felca, que expôs a "adultização" de crianças nas redes sociais, resultou em um aumento de 114% nas denúncias de pornografia infantil recebidas pela SaferNet Brasil entre 6 de agosto e 12 de agosto de 2025.
O Senado Federal também reagiu à denúncia com a proposta de criação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar a exploração infantil nas redes sociais.

Alerta - A situação em Mato Grosso do Sul reflete um problema nacional: o Brasil ocupa a 5ª posição entre os países com mais denúncias de abuso sexual infantil online, segundo dados da InHope (International Association of Internet Hotlines). Entre janeiro e julho de 2025, a SaferNet Brasil registrou 49.336 denúncias de abuso e exploração sexual infantil, representando 64% do total de casos recebidos no período.
Para Silvia Aparecida Ibanez Martins, advogada e especialista em direito digital, o tema é extremamente sensível e precisa ser discutido com os pais e responsáveis. "Entendo que este é um tema muito sensível e que deve ser discutido com os pais e responsáveis, que devem ser alertados quanto à gravidade da violência sexual contra adolescentes e crianças. Sabemos que esta violência sexual no mundo digital é crescente e preocupante, portanto, as ações integradas entre governo, sociedade civil e plataformas digitais são extremamente importantes para o combate a esta violência", afirma a especialista.
Silvia destaca ainda que, devido à propagação em tempo real no mundo digital, os crimes praticados na internet, como compartilhamento de imagens de abuso infantil, exploração sexual de crianças e adolescentes, aliciamento e tráfico de menores para fins sexuais, devem ser combatidos de maneira imediata, com o envolvimento de toda a sociedade.
"O governo atua com legislação e regulamentação, além de políticas públicas de educação digital e campanhas preventivas. A sociedade civil é fundamental na conscientização e no acolhimento de vítimas, enquanto as famílias precisam estar atentas aos sinais de violência", explica.
As plataformas digitais também desempenham papel crucial, moderando conteúdos e colaborando com autoridades para criar ambientes seguros, com controles de idade e políticas de uso adequadas.
"É importante alertar crianças e adolescentes sobre os riscos de utilização das plataformas sem precauções e os danos que a propagação dessas informações pode causar. O diálogo e a educação preventiva são essenciais. Qualquer situação estranha deve ser comunicada e investigada imediatamente", acrescenta Silvia.
A especialista ressalta que os principais desafios são a conscientização da população e a criação de políticas públicas de prevenção. "A educação digital contínua e frequente ajuda pais e professores a alertarem os jovens e adolescentes para que se protejam", afirma.
Ela também comenta a repercussão da denúncia do influenciador Felca, que expôs casos de "adultização" de crianças com conotação sexual. "Essa denúncia foi de suma importância, pois alertou ainda mais sobre o tema, reforçando a necessidade de proteger os direitos de crianças e adolescentes e prevenir crimes sexuais no ambiente digital", conclui.

Joshua Adam Pereira Souza, 35 anos, é pai de uma menina de 11 anos e conta como busca orientar a filha no uso da internet, aplicativos e jogos online.
Ele admite que não consegue monitorar todos os sites e plataformas acessados, já que a maior parte envolve jogos e serviços de streaming, o que acaba reduzindo a fiscalização. “Confesso que deveria monitorar mais”, reconhece.
Na rotina da família, há um controle de tempo de tela, com horários definidos para o uso do celular e maior flexibilidade nos finais de semana. O diálogo, no entanto, é o principal recurso adotado para prevenção. “Ela sabe que qualquer coisa estranha que aconteça nos jogos ou nos sites pode falar comigo ou com a mãe dela”, afirma.
As conversas sobre riscos digitais são frequentes. Joshua costuma reforçar os alertas sobre interações com desconhecidos, mesmo em ambientes aparentemente infantis. “Por mais que sejam jogos para crianças, não sabemos quem está do outro lado da tela”, ressalta.
Outro ponto de orientação é o cuidado com informações pessoais. O pai lembra que sempre instrui a filha a não compartilhar fotos, dados ou endereço com desconhecidos. “Falamos para ela nunca mandar nada sobre ela ou onde mora”, completa.
Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.