Agricultor mantém horta por décadas, em área de escola que nunca foi concluída
No Jd. das Nações, local é alvo de depredação, descarte de lixo e mato alto; prefeitura diz que retomará obra

Na manhã de 31 de dezembro de 2012, foi assinada a ordem de serviço para a construção da “Escola do Parati”, unidade municipal prevista para o bairro Jardim das Nações, em Campo Grande. A obra deveria ser concluída até o fim de 2013, mas segue paralisada há mais de uma década.
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A construção da "Escola do Parati", no bairro Jardim das Nações, em Campo Grande, está paralisada há mais de uma década. Iniciada em dezembro de 2012, a obra deveria ter sido concluída até o fim de 2013. O projeto incluía uma horta comunitária que seria coordenada pelo agricultor Raimundo Gomes da Silva. Mesmo com o abandono da construção, Raimundo manteve uma pequena horta no local, cultivando pimentão, couve e jiló. Atualmente, devido a problemas de saúde, ele reduziu as atividades. A Secretaria Municipal de Educação informou que a unidade está em processo de licitação para retomada das obras.
Com o abandono da construção, Raimundo Gomes da Silva, 65 anos, mantém no local uma uma horta que abastece o comércio da família, que fica em frente. Mas no projeto original e ideia era maior: criar ali uma horta comunitária para atender a merenda e a comunidade.
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Raimundo hoje vive a maior parte do tempo em uma chácara, mas a filha administra a plantação. Ele já cultivava hortaliças no local, mas teve de retirar rapidamente quando o então prefeito, e hoje senador, Nelsinho Trad (PSD), assinou a ordem de serviço. Na época Raimundo era professor orientador no lugar e a proposta era para continuar depois que as aulas começassem, tocando o projeto junto com os alunos.

"Depois vieram as paralisações e o abandono, que acabaram trazendo vandalismo e furtos”, conta a filha dele, Helaine Gomes.
Com o passar dos anos e o agravamento dos problemas de saúde, Raimundo, que tem três próteses nos quadris, precisou se afastar dos cuidados diários com o terreno. Ainda assim, tenta manter o espaço ativo com ajuda de amigos e diaristas.
“De pouquinho em pouquinho, com a ajuda de algum diarista, ele plantava pimentão, couve e jiló. Porém, debilitado, não conseguia cuidar, levando aos trancos e barrancos, pensando na movimentação do espaço para indicar que ali tinha pessoas cuidando do local”, relata a filha.

Abandono
O mato alto toma conta do entorno do que era para ser uma escola, e há sinais de ocupação, com roupas espalhadas pelo chão e depredação do espaço. Mesmo assim, nos fundos da unidade, ainda é possível ver as couves-flores de Raimundo.
Quem também guarda lembranças da construção é Milton Lossávaro, 73 anos, que trabalhou na parte elétrica da escola. Ele conta que, quando a obra foi interrompida, a justificativa era a falta de verba.
“Passei por aqui para ver como está a obra. É um desprezo do poder público não terminar. A comunidade precisa de uma escola, e ela está assim, parada, sem serventia”, lamenta.
De acordo com Milton, o projeto original previa 12 salas de aula, secretaria, sala de informática e cozinha. Moradora do Jardim das Nações há 11 anos, Ana Carolina de Souza, 30 anos, vê a retomada da obra como uma necessidade urgente. Ela é mãe de uma menina autista e precisa caminhar 15 minutos todos os dias até o bairro vizinho para levá-la à escola.
“A rua que eu passo para levar a minha filha é um campo aberto, sempre jogam lixo lá. Se a obra já tivesse sido entregue, era só ir na outra rua, seria muito melhor, porque ela é autista, até pra ela vir sozinha, começar a aprender, seria bem melhor”, diz.
Ao lado do terreno, o acúmulo de lixo é constante. A rua sem asfalto e o entorno de campo aberto facilitam o descarte irregular de resíduos. Helaine conta que ela e a família tentaram manter a limpeza do local, mas desistiram após sofrer ameaças.
“Muitas vezes chamávamos atenção das pessoas que jogavam [lixo] até sermos ameaçados. Aí meu pai, com o trator, limpava a rua”, relembra. No entanto, devido às condições de saúde do pai, ele teve que parar de limpar o local.
A construção da escola também beneficiaria Helaine, que é professora e gostaria de poder trabalhar perto da sua casa. “Lamentamos muito, por vários motivos: a população precisa de uma escola no bairro, a obra parada traz transtornos como lixo, vandalismo, roubos e a falta de segurança é enorme”, resume.
A Semed (Secretaria Municipal de Educação) informou que a unidade, conhecida como Escola do Parati, está em processo de licitação para retomada das obras, paradas há mais de 10 anos.
A Semed afirmou que, após as etapas legais e administrativas, a construção será retomada “em breve”. A pasta informou ainda que a limpeza do entorno foi repassada ao setor responsável, que deve realizar roçada e retirada de entulhos nos próximos dias.
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