Réu fala com mãe de jovem fuzilado: "pelo amor de Deus, não cometi esse crime"
Marcelo Rios confessa ter guardado arsenal, mas nega qualquer envolvimento com a morte de Matheus Coutinho
Acusações de tortura e ataques a delegado foram as principais estratégias adotadas pela defesa do ex-guarda municipal Marcelo Rios, 46 anos, para desqualificar a acusação de envolvimento na morte do estudante Matheus Coutinho. Ao final do interrogatório, o réu se dirigiu à mãe da vítima: “Senhora, como mãe, pelo amor de Deus, eu não cometi nada, não cometi esse crime”.
Durante depoimento, o réu citou que teria sido vítima de torturas praticadas pelo delegado do Garras (Grupo Armado de Repressão e Resgate a Assaltos e Sequestros), Fábio Peró, em 2019, durante investigação. Diz que “caiu” com armamento plantado, um carregador 9 mm, flagrante que aconteceu em maio daquele ano, a 750 metros da casa onde o arsenal foi encontrado, no Bairro Monte Líbano. “Peró é um crápula”.
Rios questionou a informação policial de que eles teriam procurado a família dele. “É a piada das piadas”, alegando que nenhum policial se importa com familiares de preso. Chorou ao afirmar que foi torturado, algemando com os braços para cima. “Arrebentou músculo do meu braço”.
A reportagem entrou em contato com o delegado Fábio Peró, que está de férias. Ele negou as acusações feitas por Rios. "Fiz meu trabalho seguindo todos os passos com seriedade. todo esse ataque é desespero da defesa".
O ex-guarda voltou a confessar que guardou o arsenal a pedido de Juanil Miranda Lima, acusado de ser um dos executores de Matheus Coutinho. Porém, negou qualquer participação no plano de matar o ex-policial Paulo Roberto Teixeira Xavier, crime que acabou tendo como alvo o estudante.
Também negou que tivesse dito que Juanil Miranda pudesse estar na casa onde o arsenal foi guardado, como afirmaram os delegados nos depoimentos. Segundo ele, apenas passou o bairro onde o homem morava, mas que eram para que tivessem cuidado, caso encontrassem Lima no local. Teria dito a eles: “Porque ele vai vender o couro caro”, o que significa que não se entregaria fácil.
Ao fim, o advogado Márcio Widal pediu que o cliente fizesse as considerações finais como autodefesa. Se dirigindo aos jurados, Rios disse que foi um crime horrível, “uma vergonha e covardia” feita com o garoto e que os culpados tem que ser punidos. “Mas eu entendo que não pode ser feita uma caçada às bruxas”, afirmou.
Ainda para os jurados, continuou: “Eu como guarda municipal, um coitado, um ex-guarda municipal, um salarinho de nada, morando num bairrozinho, gente”. Voltou a confessar que guardou as armas, a pedido de Juanil Miranda.
No fim do depoimento, se virou para mãe de Matheus Coutinho, a advogada Cristiane de Almeida Coutinho, que participa do júri como assistente de acusação. Com as mãos unidas, pediu. “A senhora, como mãe, pelo amor de Deus, eu não cometi nada”. Impassível, a advogada, até então de braços cruzados, levanta uma das mãos com sinal de negativa, para que ele não se dirigisse a ela. Rios continuou. “Não cometi nada desse crime, é isso que eu tenho para dizer para vocês. Eu, Marcelo, não fiz isso”.
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