Com líderes nacionais, indígenas fazem Grande Assembleia e querem trocar cacique
Aty Guasu começa hoje e vai até sexta-feira em fazenda reocupada ontem; índios estão construindo barracos

Começa nesta terça-feira (28) em Amambai, a 351 km de Campo Grande, a Aty Guasu, que em guarani significa “Grande Assembleia”, evento político organizado pelos povos indígenas. O palco do evento não poderia ser mais simbólico: a Fazenda Bordas da Mata, onde o guarani-kaiowá Vito Fernandes, 42, foi morto em confronto com policiais do Batalhão de Choque da Polícia Militar, na sexta-feira (24).
Ao Campo Grande News, um dos líderes do grupo, Avá Apyká Rendy, disse hoje que lideranças nacionais guaranis são esperadas para o evento. “De hoje até sexta-feira (1º), vamos nos reunir e discutir mais esse crime contra nosso povo e vamos tomar decisões coletivas sobre quais medidas serão tomadas para responsabilizar o Estado e o governo pela morte do nosso irmão”, afirmou.
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Avá Apyká Rendy (nome guarani, pois ele pediu para não ter seu nome oficial divulgado por medo de represálias) confirmou a reocupação da fazenda, de onde os índios tinham sido expulsos pelos policiais na sexta-feira.
Eles voltaram ontem para o local, para sepultar o corpo de Vito Fernandes. O caixão foi enterrado a 15 metros da sede da fazenda, no local onde começou o confronto. “O povo ficou na área, retomamos, estão construindo barracos para morar”, disse o porta-voz.
Capitão – Além de protestos contra a polícia e os fazendeiros, os índios que lutam pela demarcação da Fazenda Bordas da Mata também querem a prisão do capitão da Aldeia Amambai, João Gauto. Eleito em 2020, o líder político da aldeia é apontado como um dos responsáveis pelo confronto.
Em nota oficial divulgada no fim de semana, a entidade “Grande Assembleia da Aty Guasu Guarani e Kaiowa” pediu a prisão de Gauto por suposta facilitação do massacre. O grupo que ocupou a fazenda é de oposição ao capitão. “Não podemos permitir que divisões internas sejam instrumentalizadas pelo Poder Público e que isso nos tire a vida”, afirmou a Aty Guasu.
“Não entendemos porque ele fica contra sua própria gente e do lado de fazendeiros que tomaram nossas terras”, disse morador idoso da aldeia, que também pede anonimato, por medo de sofrer violência.
Os índios que retomaram a fazenda acusam o capitão de ter mentido para a polícia sobre suposto envolvimento deles com o tráfico de drogas. Gauto também enviou cartas para a Funai e para a Secretaria de Segurança Pública pedindo medidas contra seu próprio povo.
Ontem, durante o funeral de Vito Fernandes, os manifestantes carregavam cartazes de protesto contra João Gauto. A reportagem não conseguiu localizar o capitão.