Como um cão farejador, vem a vacina contra o câncer em 2026
O que normalmente levava 10 anos, fizeram em 10 meses. A necessidade urgente de uma vacina durante a pandemia do coronavírus empurrou milhares de cientistas de todo o mundo a buscar uma solução recorde. Além dos bilhões gastos em uma colaboração global sem precedentes, outro fator foi chave: a tecnologia do RNA mensageiro - mRNA.
O que fazer com tantos cientistas e máquinas?
Passada a pandemia, enorme quantidade de cientistas e de máquinas super avançadas tinham de continuar produzindo. Mas, produzir o quê? Foi a pergunta que fizeram. As empresas BioNTech e Moderna acordaram com o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido, o riquíssimo SUS britânico, a desenvolver com o mRNA uma vacina contra o câncer. Milhares de pessoas já participam dos ensaios clínicos em 24 países. Esperam que as provas sejam aceitas em princípios de 2026.
Como um cão farejador.
Essa vacina será como um cão farejador em um aeroporto: lhes dão uma amostra para que saiba o que buscar. A vacina será individual. Não será como as atuais em que uma só vacina vale para todas pessoas. Os dez milhões de mortos anuais no mundo, passarão a ter muito mais chances de sobrevivência. A BioNTech já está tratando 10.000 pessoas. A Moderna está ancorada em um investimento para dez anos capaz de produzir 250 milhões de vacinas. São números minúsculos, gota de água no oceano.
Continuarão valendo os mesmos procedimentos atuais.
Nada mudará quanto aos atuais procedimentos. Você tem muito mais chances de sobreviver em qualquer caso de câncer se o detectar no início. Também continuarão a usa a terrível quimioterapia. Mas então o que mudará? Caso você detecte um câncer, os médicos farão uma biópsia e enviarão para a empresa essa amostra. A empresa modificará os genes, ensinando-os a perceber o tipo de mutação que está ocorrendo. Essa mudança genética será administrada em teu corpo. Atualmente, dependemos de uma dupla: detecção rápida e quimioterapia. No futuro, a dupla será um trio: a mesma detecção rápida, a mesma quimioterapia e a “vacina cão farejador”.
O Brasil está se preparando?
Não há perspectiva alguma que as duas empresas envolvidas na criação da vacina contra o câncer aterrizem em solo brasileiro. Teríamos de estar nos preparando. Para obter a vacina, convergem avanços em três áreas: a tecnologia de mRNA, a sequenciação genética e a inteligência artificial. Graças à sequenciação, se pode analisar cada par de bases - os pedacinhos que formam a escada característica do DNA e identificar quais estão anormais. A inteligência artificial permite analisar rapidamente quais das 1.000 a 10.000 mutações que chegam a ter câncer podem ser reconhecidas pelo sistema imunológico . Esse conjunto de maquinas e cientistas custam imensas fortunas. O Brasil não está, como sempre, se preparando para esse dia.
O futuro pertence aos ricos.
Conheço duas pessoas que estão sendo tratadas com essa nova técnica. Para uma, o custo inicial foi de R$ 400 mil. A segunda pessoa, teve despesas bem mais elevadas - gastou quase R$ 2 milhões. Imaginar que toda a população brasileira tenha acesso a essa vacina não passa de utopia, mas o governo poderia estar acompanhando o desenvolvimento dessa vacina, adquirindo as máquinas necessárias e enviando cientistas para a Grã Bretanha, para que saibam o que fazer, mesmo que leve mais tempo que os ingleses.
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