Inspirado em bolo gigante, barquinho de Lourdes virou mural
Aposentada tem projeto infantil na própria casa e faz bolo ilustrado há 25 anos
Há 40 anos morando na Vila Nhanhá, Lourdes Ribas de Souza ganhou uma pintura no muro de casa. A arte não é qualquer desenho feito só para enfeitar, mas um símbolo do projeto que desenvolve há 25 anos na Rua Comércio com as crianças todo final de ano. Agora, o barquinho de Moisés que ela usa para enfeitar o bolo gigante na data também está em toda a fachada.
RESUMO
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Moradora da Vila Nhanhá há 40 anos, Lourdes Ribas de Souza teve sua casa transformada em um mural que retrata o barquinho de Moisés, símbolo do projeto social que desenvolve há 25 anos. A arte foi realizada pelo coletivo Campão Graffiti durante a 4ª edição do Dia do Graffiti. O projeto de Lourdes atende centenas de crianças anualmente, oferecendo festa com bolo gigante, cachorro-quente e distribuição de brinquedos. A iniciativa, que começou de forma modesta, hoje reúne cerca de 500 pessoas e ganhou visibilidade com o mural, executado pela artista Grazi Romero, que se inspirou na história do barquinho bíblico e na dedicação da aposentada às crianças da comunidade.
A pintura é motivo de orgulho e foi feita com o coletivo Campão Graffiti, na 4ª edição do Dia do Graffiti. Além de Lourdes, outros moradores ganharam desenhos nos portões e paredes. Aos 82 anos, a aposentada conta como tudo começou por ali.
“Eu era funcionária pública. Depois que saí do Estado, comecei. Por muito tempo fui coordenadora na Pastoral da Criança também. Resolvi fazer esse projeto aqui. Há 7 anos, meu esposo faleceu. O barco ficou maravilhoso. Na festa, a gente fecha a rua e traz brinquedos. Eu faço o bolo do tamanho de uma mesa, nem sei quantos quilos tem. Fazemos 300 cachorros-quentes e distribuímos brinquedos.”
A imagem do barquinho veio pela devoção e pela história de Moisés, que foi deixado no mar em um barco para começar a vida.
“O primeiro bolo que fiz ficou em branco e as minhas filhas falaram que eu tinha de ver um desenho para fazer. Aí, como me inspiro muito na Bíblia, lembrei do barquinho de Moisés; ele começou a vida em um barco sem rumo. Largaram na água e disseram: ‘Vai’. Aí tenho o projeto de cuidar de crianças há tanto tempo e todo bolo tem o barco, e agora resolvi colocar no muro. Ele está no muro para que fique público; ele é sinônimo da minha festa.”

Antes, a festa era restrita apenas a crianças da comunidade, sem muita divulgação ou alarde. Agora, a ideia mudou. Lourdes quer que todos saibam. “Vem uma média de 400 a 500 pessoas. Eu cadastro todas em um caderno. Gosto disso. Coloco nome e idade. A gente tem dificuldade de dar presentes. Todas têm que ganhar. Este ano, preciso de 200 presentes para meninos e meninas”.
A responsável por fazer o muro na casa de Lourdes é a artista Grazi Romero. Ela trabalha na área há 22 anos e, quando viu a história, diz ter ficado emocionada. “Porque envolve crianças e é difícil encontrar pessoas dispostas a isso. O barquinho representa isso dela. Eu criei a arte baseada na história; ela deu a ideia e, nisso, criamos os barquinhos e as crianças”, conta.
Projeto
As oficinas do Dia do Grafite no bairro reuniram artistas de diferentes cantos do país e colocaram as crianças no centro do movimento hip hop. Entre elas está a paraense Tia Ireny, que atravessou o Brasil para ensinar a linguagem do grafite aos pequenos da comunidade.
“Vim diretamente do Pará para dar oficina para as crianças. Foi maravilhoso, eles curtiram muito e parece que eles decidiram fazer. É minha primeira vez aqui. É muito importante, a arte resgata. O movimento hip hop dentro das quebradas serve como ferramenta de transformação, para mostrar para elas que grafite é arte, sim, e tem o poder de mudar vidas.”
Confira a galeria de imagens:
O artista Victor Venialgo, de Pedro Ruan Caballero, voltou à Vila Nhanhá para participar da ação. “É a segunda vez que venho; é uma experiência incrível. Fiz uma peça em homenagem à Consistência Nega, usando a árvore como cabelo”, explica. Para ele, ver a arte de perto, em um bairro de periferia, é fazer com que as crianças enxerguem outro tipo de vida. “Mostrar que tem coisas boas para eles fazerem.”
Idealizador do projeto Dia do Grafite, San Martinez comemora o crescimento da iniciativa e afirma que é importante fazer da arte e do grafite uma educação visual.
"Mudando o bairro, conseguimos mudar a concepção do que as pessoas querem no bairro. Estou no grafite há 15 anos. A gente está expandindo o grafite para outras áreas, porque, geralmente, as pessoas veem o grafite como um desenho só, como se fosse apenas uma arara ou uma onça desenhada, mas o grafite é um movimento social. Ele foi uma luta dos negros. Muitas vezes, o movimento é mal compreendido porque nos relacionam a coisas negativas, porque não entendem o desenho. Eles ainda não conhecem o nosso mundo."
Na dança, veio outro reforço para o evento direto de São Paulo. Na cena há 12 anos, o DJ ensinou o ritmo do break para as crianças.
Fazer parte do movimento foi interessante; as crianças ficaram de fato interessadas. Uma chama a outra e, quando vi, a sala estava cheia e elas querendo mais. O break é isso. Querer isso é o que faz as crianças aprenderem. Acho importante que aconteça no bairro, porque a maioria é no centro e elas não têm como ir. As famílias também precisam disso. A cultura hip hop é uma escola.”
“Sou fundador e presidente do Núcleo Humanitário da Nhanhá. O processo de convencimento dos moradores foi tranquilo. Eles deram ideias: barquinho, desenho do Pantanal, Ayrton Senna. Não foi tudo na primeira edição, mas estamos fazendo aos poucos”, explica Cris.
“Quando você vive no caos estabelecido, toda boa ação e tudo o que é bom sobressaem. Cada ação que a gente faz é uma nova chance de não ter só coisas ruins, mas também de sair matérias falando bem daqui", completa.
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