Denúncias envolvendo chefão do União Brasil ameaçam acordos políticos em MS
Piloto diz que Antônio Rueda tem envolvimento com o PCC e liga Ciro Nogueira a suspeita de propina
O “transatlântico” que leva a bordo a maior federação partidária já criada no Brasil está avariado e ameaça a estabilidade do maior bloco partidário no Congresso e a segunda maior força política de Mato Grosso do Sul. As denúncias que atingem os dois principais dirigentes da UPB (União Progressista), o senador Ciro Nogueira (PP), acusado de receber propina, e o advogado Antônio Rueda (União Brasil), apontado como sócio oculto de empresários ligados ao PCC, podem comprometer a formação da frente de direita para as eleições do ano que vem.
RESUMO
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Denúncias envolvendo lideranças da União Progressista (UPB) ameaçam a estabilidade da maior federação partidária do Brasil. O senador Ciro Nogueira (PP) é acusado de receber propina, enquanto Antônio Rueda (União Brasil) é apontado como sócio oculto de empresários ligados ao PCC. As acusações partem do piloto Mauro Caputti Mattosinho, que afirma ter transportado dinheiro destinado ao gabinete de Nogueira e relata conexões de Rueda com empresários foragidos. Ambos os políticos negam as acusações, e o União Brasil determinou a saída de seus filiados de cargos no governo federal, alegando perseguição política.
A presidente da UPB em Mato Grosso do Sul, senadora Tereza Cristina (PP), entusiasta da parceria Ciro-Rueda na construção da federação, evitou a imprensa. Já o deputado federal Dr. Luiz Ovando, único representante do partido na bancada federal, defendeu que as denúncias sejam investigadas pelo Ministério Público. Segundo ele, não se pode “aceitar uma denúncia dessa e passar em branco”, cabendo às autoridades apurar e instaurar inquérito para confirmar ou descartar as suspeitas.
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Sobre Rueda, Ovando lembrou que já havia desconfiança desde o tempo em que dividia a direção do PSL com o deputado Luciano Bivar (União Brasil-PE) e admitiu que “nunca se podia confiar verdadeiramente em um ou em outro”.
Mesmo assim, disse não ter experiência pessoal negativa. Em relação a Ciro Nogueira, afirmou nunca ter visto deslizes na condução do partido, mas defendeu igualmente a apuração de qualquer queixa. Médico, comparou a situação a um diagnóstico clínico: “Se há suspeita, é preciso confirmar ou afastar totalmente”. Para ele, deixar dúvidas sem esclarecimento compromete a imagem da federação e inviabiliza a defesa de posições corretas.

Rede aérea ligada ao PCC
As denúncias foram publicadas pela plataforma ICL (Instituto Conhecimento Liberta), a partir de entrevista com o piloto Mauro Caputti Mattosinho, ex-funcionário da TAP (Táxi Aéreo Piracicaba). Ele afirmou que Rueda seria o verdadeiro dono de quatro aeronaves registradas em nome de terceiros e ligadas a empresários como Mohamed Hussein Mourad (“Primo” ou “João”) e Luiz Augusto Leme da Silva (“Beto Louco”), ambos apontados como financiadores do PCC (Primeiro Comando da Capital) e hoje foragidos.
O piloto relatou ainda ter transportado, em agosto do ano passado, uma sacola de papelão com maços de dinheiro que teria sido entregue a alguém ligado ao gabinete de Ciro Nogueira por Beto Louco.
O empresário estava no voo acompanhado de funcionários de uma das empresas investigadas na Operação Carbono Oculto. Durante o trajeto, segundo relato do piloto, mencionou diversas vezes o nome do senador e um encontro que teria com ele. Mattosinho diz que, no retorno, foi informado que deveria preparar a aeronave para o deslocamento, ouvindo que o grupo se deslocava do Senado para o hangar, no Aeroporto Internacional de Brasília.
Segundo o piloto, Rueda era chamado internamente na companhia de “Ruedinho” e apontado como líder de um grupo “com muito dinheiro para gastar” em jatos avaliados em milhões de dólares.
As acusações também atingem o empresário Epaminondas Chenu Madeira, administrador, herdeiro da TAP (Táxi Aéreo Piracicaba) e sócio de companhias aéreas como a Aviação Alta e a ATL Airlines. Esta última tem participação no Fundo Capri, representado por Rogério Garcia Peres, igualmente acusado de ligação com o PCC (Primeiro Comando da Capital).
Mourad, Beto Louco e Peres são considerados foragidos e estão entre os principais alvos da Operação Carbono Oculto. Mattosinho pediu demissão após ser abordado pela PF (Polícia Federal) ao retornar de uma viagem a Punta del Este, no Uruguai, para onde transportara a família de Beto Louco na véspera da operação deflagrada em 28 de agosto. Em depoimento, confirmou à PF as declarações dadas antes ao ICL (Instituto Conhecimento Liberta) e ao UOL (Universo Online). Ele estaria colaborando com investigações.
Reação política acirra disputa com o governo
Rueda negou todas as acusações, classificou-as como “infundadas, prematuras e superficiais”, atribuiu a ofensiva ao governo e determinou, nesta quinta, 18 de setembro, que os filiados do União Brasil deixassem os cargos na Esplanada em até 24 horas, inclusive o ministro do Turismo, Celso Sabino. “Repudio com veemência qualquer tentativa de associar meu nome a pessoas investigadas ou envolvidas em ilícitos”, declarou.
O senador Ciro Nogueira também negou envolvimento, colocou seus sigilos fiscal e telefônico à disposição das autoridades e anunciou ação por danos morais contra o ICL. A plataforma reafirmou a apuração e disse não se intimidar.
Em nota, o União Brasil manifestou “irrestrita solidariedade” a Rueda, qualificou as acusações como parte de uma “perseguição política” e destacou a “coincidência” de elas surgirem dias após a decisão de retirar filiados do governo federal. Segundo o texto, trata-se de “tentativa de enfraquecer a independência de um partido que adotou posição contrária ao atual governo”.
A reação do governo partiu da ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, que em postagem no X classificou como “infundadas e levianas” as afirmações do União Brasil sobre retaliação do Planalto. “A direção do partido tem todo o direito de decidir a saída de seus membros que exercem posições no governo federal. O que não pode é atribuir falsamente ao governo a responsabilidade por publicações que associam dirigente do partido a investigações sobre crimes. Isso não é verdade”, afirmou.
A federação UPB, formada por PP e União Brasil há um mês, reúne 109 deputados e 15 senadores, além de seis governadores, 186 deputados estaduais, 1.335 prefeitos e 12.398 vereadores, um “transatlântico”, como afirmou a senadora Tereza Cristina.
Em Mato Grosso do Sul, a UPB tem na presidência estadual Tereza Cristina. Na bancada federal, Ovando é o único representante. O efeito das denúncias sobre a UPB vai depender das explicações de Rueda e Ciro ou do resultado de investigações em curso.