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O dia mais difícil para quem ama animais: quando a morte é inevitável

Entender o luto antecipatório ajuda a reduzir o impacto da perda nos donos de cães e gatos

Por Natália Olliver | 23/12/2025 07:42
O dia mais difícil para quem ama animais: quando a morte é inevitável
Sebastian partiu em 2019 e dona fala sobre perda que aconteceu de repente (Foto: Arquivo pessoal)

Ninguém está preparado para a morte e isso também inclui a dos pets. Mas, quando não há outro final para a história deles, como os donos podem lidar com o inevitável? Essa pergunta é feita por milhares de pessoas ao Google e não é à toa que aparece entre as mais buscadas quando o assunto são os bichinhos. A resposta é complexa e vai além do clichê.

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A morte de animais de estimação é um processo doloroso que afeta milhares de tutores, levando muitos a buscarem orientação sobre como lidar com a perda. Segundo a psicanalista Raissa Ferreira, especialista em luto, não há como evitar a dor, mas existem maneiras de tornar o processo menos intenso, especialmente quando há tempo para preparação. O luto por pets é frequentemente estigmatizado pela sociedade, que tende a minimizar esse sofrimento em comparação à perda de pessoas. A experiência da médica veterinária Gabriela Dal Sasso ilustra diferentes formas de enfrentar essa perda, desde a morte repentina de seu gato Sebastian até a partida gradual de seu cão Hércules, após 17 anos de convivência.

A psicanalista especializada em luto, Raissa Ferreira, explica que não há como escapar da dor, mas que existem, sim, maneiras de lidar com ela e tornar o processo menos intenso. Estamos falando de quando a morte não chega de repente, ou seja, quando cães ou gatos estão doentes ou são muito idosos. O fim é uma certeza, mas, nesses casos, o processo de preparação pode ser iniciado aos poucos.

Segundo Raissa, um bom jeito de lidar com o processo de finitude é conseguir proporcionar momentos de conforto e atenção ao animal. Quanto mais forte o vínculo e os cuidados prestados, mais condições o tutor terá de encarar a separação.

“O luto é o preço do amor. Não há escapatória. Só passamos indiferentes ao sofrimento quando não há relação de amor. É preciso investir em tempo de qualidade ao lado do animal e se certificar da qualidade de vida que o bichinho está levando. Ter com quem falar sobre a iminente separação e ter tempo para se relacionar com o animalzinho de forma mais intencional em relação à morte próxima.”

O dia mais difícil para quem ama animais: quando a morte é inevitável
O dia mais difícil para quem ama animais: quando a morte é inevitável
Gabriela perdeu Sebastian e o cão, Hércules (Foto: Arquivo pessoal)

Ela acrescenta que o luto antecipatório tem os mesmos sintomas do luto por morte. O tutor vive a angústia, a tristeza e o desconsolo por se ver impotente em relação ao processo que está vivenciando. Algumas pessoas podem entrar em estados depressivos antes mesmo da perda efetiva, o que pode desencadear estados patológicos de luto quando a perda se concretiza.

“O luto por animais de estimação é muito estigmatizado socialmente. Geralmente, as pessoas ao redor invalidam esse sofrimento e tentam forçar uma rápida substituição do animal velho ou morto por um filhote, como se fosse possível apagar a dor e o vínculo. Também há uma diminuição do valor dessa relação quando tentam convencer os tutores de que não é tão grave quanto perder uma pessoa.”

Na pele

Ninguém é treinado para essa despedida. Não existe manual, curso ou preparo emocional que dê conta do vazio que fica. Gabriela Dal Sasso de Oliveira, de 35 anos, sabe bem disso. Ao longo da vida, ela já perdeu alguns animais e guarda essas experiências até hoje.

“O primeiro foi a cadela que tive na infância, chamada Bell. Foi aí que vi que realmente vivemos um luto ao perdê-los. Fiquei sem saber o que fazer, mas o acolhimento do próprio hospital veterinário foi muito bom. Nos explicaram como agir, inclusive indicaram um cemitério de bichinhos. Passar por todo esse ritual foi muito importante para a minha família assimilar e lidar com essa perda.”

O luto mais complicado que Gabriela enfrentou foi o de um felino Sebastian. Em 2019, ele teve uma doença muito inesperada e faleceu com apenas três anos.

“Isso nos devastou. Várias coisas estavam acontecendo na época, mas esse fato foi o gatilho para buscarmos terapia, que inclusive continuo até hoje, seis anos depois. Foi tudo muito rápido. O diagnóstico foi muito certeiro, eu sabia que ele iria morrer, mas não consegui elaborar isso. Só vivia o dia a dia naqueles cuidados intensos que ele precisava. Eu só fui lidar com a perda depois que ela aconteceu e foi muito difícil. Foi muito inesperado e, por isso, foi o luto mais triste que passei.”

Depois disso, Gabriela buscou ajuda com um especialista. Gabi é médica veterinária, e, embora não atue na clínica, ela percebia como o tema era tratado com desprezo por muitas pessoas.

O dia mais difícil para quem ama animais: quando a morte é inevitável
Perder o gato foi  o motivo que levou Gabi para terapia (Foto: Arquivo pessoal)

“Senti receio. Eu me questionava se fazia sentido buscar ajuda psicológica por não conseguir lidar com a perda de um ‘bichinho’. Sou médica veterinária, embora não atue na clínica, e mesmo assim percebia como esse tipo de luto é negligenciado".

Para ela o preparo para a morte de um pet é algo muito variável. Vai muito da história, do momento e de como a pessoa vive aquele vínculo. "No meu caso, passei por situações bem diferentes. Em uma delas, não tive tempo de me preparar e isso me desestabilizou muito. Em outra, fui acompanhando o processo aos poucos, entendendo e aceitando.”

Ela se refere à morte de Hércules, seu cachorro, que esteve com a família por 17 anos. Nesse caso, a experiência foi diferente porque houve tempo para se despedir.

“Eu e toda a minha família fomos acompanhando, aos poucos, o agravamento do estado de saúde dele. Ele era doente e viveu bem até os 15 anos. Depois teve complicações e já sabíamos que a vida dele estava chegando ao fim. Foi diferente. A perda dói sempre, mas nesse caso tivemos um preparo maior. Eu conseguia perceber que ele tinha vivido o ciclo dele, dentro do tempo que um cachorro pode viver. Esse luto foi mais sereno, mais tranquilo.”

Hércules precisava de ajuda para quase tudo, desde se locomover até se alimentar. Esse cenário durou meses e a família passou a focar no conforto dele.

“Passamos a mimá-lo ainda mais do que antes. Ele comia só o que gostava, tinha menos restrições e fazíamos questão de estar sempre por perto. Esse cuidado acabou fortalecendo ainda mais o nosso vínculo. Todo esse processo tornou a morte do Hércules algo mais natural, ainda doloroso, mas talvez mais sereno.”

Para Gabriela, perder um companheiro de tantos anos foi menos traumático do que a morte repentina de Sebastian. “Mesmo que a saudade ainda seja grande, o fato de ter mais ferramentas e mais consciência do que estava acontecendo me ajudou a atravessar a perda de uma forma um pouco melhor.”

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