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Lado Rural

Integração no pasto faz gado engordar mais e emitir menos metano

Sistemas com leguminosas e lavoura reduzem impacto climático e elevam eficiência da pecuária

Por José Cruz | 23/12/2025 08:15

Integração no pasto faz gado engordar mais e emitir menos metano
Pesquisadores avaliaram como diferentes estratégias de intensificação na pecuária influenciam o ganho de peso de bovinos nelore, a emissão de metano entérico e o acúmulo de carbono no solo. (Foto Embrapa)

RESUMO

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A integração entre capim, leguminosas e lavoura na pecuária tem demonstrado resultados promissores na produção de carne e redução de gases de efeito estufa, segundo estudo da Embrapa Cerrados em parceria com a UnB. A pesquisa comparou três modelos produtivos, revelando que sistemas mais diversificados proporcionam maior ganho de peso aos bovinos.Os resultados mostraram que o sistema integrado de rotação lavoura-pecuária alcançou ganho médio diário de 0,76 kg nos bovinos Nelore, com menor emissão de metano por quilo de carne produzida. Além disso, houve significativo aumento no estoque de carbono do solo, demonstrando que é possível intensificar a produção pecuária reduzindo impactos ambientais.

A combinação entre capim, leguminosas e lavoura tem mostrado que a pecuária pode produzir mais carne e, ao mesmo tempo, emitir menos gases de efeito estufa. É o que revela um estudo da Embrapa Cerrados, em parceria com a Universidade de Brasília (UnB), que analisou diferentes sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP) e seus efeitos sobre o desempenho animal, a emissão de metano e o acúmulo de carbono no solo.

O trabalho, destaque em simpósio internacional coordenado pelo Centro de Estudos de Carbono em Agricultura Tropical (CCARBON), da USP, faz parte da tese de doutorado da pesquisadora Thais de Sousa. A pesquisa avaliou três modelos produtivos: pastagem contínua apenas com capim BRS Piatã; pastagem consorciada de Piatã com a leguminosa feijão-guandu; e um sistema integrado de rotação lavoura-pecuária com capim BRS Zuri.

O resultado foi direto: quanto maior o nível de intensificação e diversidade do sistema, melhor o desempenho dos animais e menor a emissão de metano por quilo de carne produzida. O ganho médio diário dos bovinos Nelore passou de 0,44 kg na pastagem simples para 0,69 kg no consórcio com leguminosa e chegou a 0,76 kg no sistema ILP com rotação de culturas.

Essa eficiência se refletiu também nas emissões. Enquanto a pastagem solteira registrou intensidade de 450 gramas de metano por quilo de ganho de peso vivo por hectare, o sistema com leguminosa reduziu esse índice para 269 gramas, e o modelo integrado com rotação caiu ainda mais, para 224 gramas.

O solo também respondeu positivamente. Na camada de até 30 centímetros, o estoque de carbono foi significativamente maior nos sistemas integrados. O consórcio de Piatã com feijão-guandu atingiu 83,17 toneladas de carbono por hectare, mais de 20 toneladas acima da pastagem simples, que registrou 62,20 toneladas.

Segundo os pesquisadores, os dados comprovam que intensificar a pecuária não significa, necessariamente, aumentar o impacto ambiental. Pelo contrário: sistemas bem manejados permitem produzir mais carne com menor pegada climática. Estudos anteriores na mesma área já haviam apontado redução de até 59% nas emissões de óxido nitroso, outro gás de efeito estufa de alto impacto.

O experimento foi realizado no sistema de ILP mais antigo do Brasil, implantado em 1991 na Embrapa Cerrados, com coletas feitas em maio, agosto e dezembro de 2024. Para a pesquisadora Arminda de Carvalho, os resultados reforçam o papel da tecnologia na transição para uma pecuária de baixo carbono. “A redução das emissões sem comprometer o desempenho animal é um dos principais desafios da agropecuária. Sistemas integrados e consorciados têm se mostrado alternativas viáveis para a descarbonização do setor”, afirma.

Com mais de 90% da produção de carne bovina realizada a pasto, o Brasil reúne condições estratégicas para avançar nesse modelo. A emissão de metano entérico — gerada no processo digestivo dos ruminantes e com potencial de aquecimento global 27 vezes maior que o do CO₂ — esteve no centro dos debates da COP30, em Belém. O estudo indica que o caminho passa menos por reduzir a produção e mais por produzir melhor, com sistemas que conciliam produtividade, solo saudável e menor impacto climático.