Integração no pasto faz gado engordar mais e emitir menos metano
Sistemas com leguminosas e lavoura reduzem impacto climático e elevam eficiência da pecuária

RESUMO
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A combinação entre capim, leguminosas e lavoura tem mostrado que a pecuária pode produzir mais carne e, ao mesmo tempo, emitir menos gases de efeito estufa. É o que revela um estudo da Embrapa Cerrados, em parceria com a Universidade de Brasília (UnB), que analisou diferentes sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP) e seus efeitos sobre o desempenho animal, a emissão de metano e o acúmulo de carbono no solo.
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O trabalho, destaque em simpósio internacional coordenado pelo Centro de Estudos de Carbono em Agricultura Tropical (CCARBON), da USP, faz parte da tese de doutorado da pesquisadora Thais de Sousa. A pesquisa avaliou três modelos produtivos: pastagem contínua apenas com capim BRS Piatã; pastagem consorciada de Piatã com a leguminosa feijão-guandu; e um sistema integrado de rotação lavoura-pecuária com capim BRS Zuri.
O resultado foi direto: quanto maior o nível de intensificação e diversidade do sistema, melhor o desempenho dos animais e menor a emissão de metano por quilo de carne produzida. O ganho médio diário dos bovinos Nelore passou de 0,44 kg na pastagem simples para 0,69 kg no consórcio com leguminosa e chegou a 0,76 kg no sistema ILP com rotação de culturas.
Essa eficiência se refletiu também nas emissões. Enquanto a pastagem solteira registrou intensidade de 450 gramas de metano por quilo de ganho de peso vivo por hectare, o sistema com leguminosa reduziu esse índice para 269 gramas, e o modelo integrado com rotação caiu ainda mais, para 224 gramas.
O solo também respondeu positivamente. Na camada de até 30 centímetros, o estoque de carbono foi significativamente maior nos sistemas integrados. O consórcio de Piatã com feijão-guandu atingiu 83,17 toneladas de carbono por hectare, mais de 20 toneladas acima da pastagem simples, que registrou 62,20 toneladas.
Segundo os pesquisadores, os dados comprovam que intensificar a pecuária não significa, necessariamente, aumentar o impacto ambiental. Pelo contrário: sistemas bem manejados permitem produzir mais carne com menor pegada climática. Estudos anteriores na mesma área já haviam apontado redução de até 59% nas emissões de óxido nitroso, outro gás de efeito estufa de alto impacto.
O experimento foi realizado no sistema de ILP mais antigo do Brasil, implantado em 1991 na Embrapa Cerrados, com coletas feitas em maio, agosto e dezembro de 2024. Para a pesquisadora Arminda de Carvalho, os resultados reforçam o papel da tecnologia na transição para uma pecuária de baixo carbono. “A redução das emissões sem comprometer o desempenho animal é um dos principais desafios da agropecuária. Sistemas integrados e consorciados têm se mostrado alternativas viáveis para a descarbonização do setor”, afirma.
Com mais de 90% da produção de carne bovina realizada a pasto, o Brasil reúne condições estratégicas para avançar nesse modelo. A emissão de metano entérico — gerada no processo digestivo dos ruminantes e com potencial de aquecimento global 27 vezes maior que o do CO₂ — esteve no centro dos debates da COP30, em Belém. O estudo indica que o caminho passa menos por reduzir a produção e mais por produzir melhor, com sistemas que conciliam produtividade, solo saudável e menor impacto climático.

