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Você sabe o quão privilegiado és em não se encaixar?

Por Cristiane Lang (*) | 22/07/2025 13:30

Vivemos em uma época em que a autenticidade virou palavra da moda, mas ser realmente autêntico continua sendo um ato de coragem. Enquanto o mundo clama por originalidade, ele, paradoxalmente, recompensa a conformidade. É um paradoxo cruel: todos dizem querer o diferente, mas celebram o igual. Por isso, se você sente que não se encaixa, talvez não haja nada de errado com você — talvez esse seja justamente o seu maior privilégio.

O preço de se encaixar

Desde pequenos, somos ensinados a seguir padrões. Na escola, nos vestimos igual, falamos igual, aprendemos do mesmo jeito. Na adolescência, buscamos aprovação dos grupos. Na vida adulta, seguimos rotinas sociais que raramente questionamos. O desejo de pertencimento nos faz, muitas vezes, deixar de lado o que nos faz únicos para sermos aceitos.

Mas há um custo nesse encaixe: o abandono gradual da espontaneidade. Perdemos o riso fácil, a opinião honesta, a roupa que gostamos, a escolha ousada. Tornamo-nos versões atenuadas de nós mesmos, filtradas pela aceitação do outro.

A espontaneidade como forma de resistência

Ser espontâneo é quase um ato político. É olhar para a tendência e dizer: “Não preciso seguir isso para existir”. É ter coragem de sair com aquela roupa que você ama, mesmo que não esteja na moda. É expressar uma opinião impopular com respeito e firmeza. É dançar quando ninguém mais está dançando. É ser inteiro quando todo mundo é só metade.

Espontaneidade não é descontrole — é liberdade. É agir sem o peso constante da aprovação externa. É rir alto, mesmo quando pedem silêncio. É dizer “não” quando esperam o “sim” automático. É escolher o próprio caminho, ainda que ele pareça estranho para os outros.

Autenticidade: o que te diferencia é o que te destaca

Quando você não imita todo mundo, começa a trilhar um caminho mais autoral. Claro, não é fácil. As pessoas que ousam ser diferentes enfrentam olhares tortos, críticas veladas, exclusões sutis. Mas, aos poucos, essa resistência se transforma em admiração. Porque o mundo pode até tentar padronizar, mas ele sempre se rende ao que é real.

Autenticidade atrai. Ela não precisa ser perfeita, nem estratégica. Pessoas autênticas inspiram não porque sabem tudo, mas porque têm coragem de ser quem são. Elas erram em voz alta, mudam de ideia, falam com emoção, fazem diferente. E isso é raro num mundo de cópias.

O privilégio de não se encaixar

Não se encaixar não é um defeito — é um sinal de que você ainda está em contato com a sua essência. É não caber em moldes prontos. É sentir que certas conversas não fazem sentido, que certos ambientes te drenam, que certas posturas são artificiais demais para você.

Esse “desencaixe” pode doer, mas também é o que te mantém inteiro. Ele te dá acesso à criatividade, à empatia, à conexão genuína com os outros. Quem não se encaixa aprende a ver o mundo de fora — e quem vê de fora, enxerga melhor.

Você é privilegiado por não repetir frases feitas, por não seguir tendências cegamente, por não ser só mais um. Você é privilegiado por ter coragem de ser você.

Seja você, mesmo que isso incomode

A autenticidade não pede licença. Ela chega devagar, ou de repente, e preenche os espaços com verdade. Quem é autêntico incomoda — porque mostra, sem querer, o quanto o outro está se escondendo. Mas também inspira — porque lembra que existe outra forma de viver: mais leve, mais honesta, mais viva.

Portanto, da próxima vez que sentir que não se encaixa, respire fundo e sorria. Esse é o sinal de que você não foi feito para ser apenas mais um. Você foi feito para ser você — inteiro, real e único.

E isso, nesse mundo de moldes prontos, é um verdadeiro privilégio.

(*) Cristiane Lang, psicóloga clínica especializada em oncologia

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.